Transitando
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Aqui eu transito pleno e livremente:
criando máscaras, atormentando mentes...
Inventando gente, sou fase, desatino.
Aqui eu quase sou realidade crua:
desvendando caras, saindo pelas ruas...
Revolvo da maldade a fatalidade do destino.
Se me punirem apenas por isso, que erro crasso!
Se me tomarem a tela fria que anima meu compasso...
Meus dedos, viciados, todos eles, trepidarão em alarido,
celebrando as notas subtraídas desse ato descabido.
Preciso fantasiar com reboliço, sorrindo de tudo;
preciso ‘ouvir’ as respostas das gurias: ‘sortudo!’
Meus olhos, compenetrados, em flerte, vertem sal...
esbanjam o brilho da soberba adquirida, tiro fatal!
Aqui posso ser quem eu quiser e até eu mesmo, então...
E minha idade é a que convém – a que garante o beijo!
Eis que me transmuto sempre em plena volitização...
Aqui as mentiras se acasalam e o sim pode ser o não.
E a verdade, acredite, destrói qualquer aproximação...
Assim, por que devo fazer-me diferente do que vejo?
Quando busco sei a forma de atuar e o ato-clímax é pleno.
Quando me evitam, hesitam, sei que buscam ganhar tempo.
E a dúvida (Duvida?) me fortalece – é o que percebo...
Pois o medo preenche o último sofisma do verbo.
Entre uma e outra farpa de agressão desce a cortina.
E, sem as vestes da dramaturgia, morre a menina.
Quero apenas as gotas do suor quente a me sangrar...
Revisitando noutro corpo o calor, só quero amar!
Nijair Araújo Pinto
Crato-CE, 6 de agosto de 2010.
01h57min