Desfile das sombras
"Tive um sonho que em tudo não foi sonho!"
(LORD BYRON)
Numa noite macabra e sombria,
Enquanto eu, solitário, dormia,
Comecei a alucinar...
Sonhei que, em meu quarto entrando,
Misteriosas sombras pairando
Queriam me atormentar!
De olhos vermelhos e, como a noite, escuras,
Eram sete misteriosas figuras...
E puseram-se a falar.
Apesar de eu estar assustado,
Ao mesmo tempo fiquei admirado...
E resolvi as escutar!
1ª sombra: Infância
Tu foste outrora criança vivaz,
Correndo pelos verdes campos, fugaz.
“De pés descalços e braços nus,
“Tu perseguias as borboletas azuis”.
Agora um poeta de coração gelado,
Na fria cova do olvido me hás enterrado.
Mas de teu passado não podes correr,
Pois ele sempre volta pra lhe constranger!
Lembranças felizes lhe saem da memória:
Nunca mais as teria durante sua história.
De tua infância não podes tu se constranger
Pois, por mais que tente, não pode se esconder!
2ª sombra: Emily
Achava que ia se livrar de mim?
Não serei tão fácil de esquecer assim.
Sou o espectro de teu primeiro amor
Que volta pra encher-lhe o peito de dor!
Brincávamos felizes nas colinas;
Dizias-me que era uma entre muitas meninas.
Cobrias-me o rosto de beijos juvenis
E voltávamos aos nossos jogos infantis.
Apesar de hoje em dia esquecer-se de mim,
Não serei fácil de enterrar assim.
Nas horas obscuras, em grande frenesi,
Teu coração continua a clamar: “Emily!”.
3ª sombra: Katryn
Nas horas em que se lamenta tristemente,
Minha consoladora imagem vem-lhe à mente.
Valendo-se de seu já roto bandolim,
Improvisa doces cantigas pra mim.
Nos dias de extrema adversidade,
Meu espectro mitiga-lhe a insanidade.
Mas ainda lamentas por não poder
Meu corpo físico ao teu lado ter.
Uma das poucas pessoas que se compadece
De tua triste situação, é o que parece,
Amigo, não rezas, mas reza por mi,
Pois saiba que, distante, eu rezo por ti!
4ª sombra: Camila
Um dos teus delírios mais frequentes,
Destruo, perturbo e enfado sua mente.
Sou um câncer que rói-lhe de dentro pra fora,
Segundo você – mas ouvi-me agora!
Amas-me, mas não consegues mo dizer,
Pois, de medo, tua língua vive a se prender.
Durante a noite, em prantos se debulha
E em medonhos pesadelos então mergulha.
Mocinho, este amor ‘inda irá lhe matar
Se desta tua mente você não cuidar.
Mas mesmo assim lhe dou felicidade
Com nossa atribulada, mas grande amizade!
5ª sombra: Paranoia
Se sentes calafrios quando à noite caminha
Ou vê olhos vermelhos no escuro – adivinha
De quem é a culpa: é minha! A tua companheira –
Eu, a Paranoia, que lhe observa faceira!
Quando tu caminhas, ávida te persigo;
Tu corres, mas segui-lo ainda consigo.
Encurralado e com medo, não tem como escapar
Dos meus olhos e garras sempre a te observar!
De minha tutela jamais terá saída;
Nunca – jamais – poderei ser vencida.
Meus olhos e garras sempre irão te ver,
Independente de onde irá se esconder!
6ª sombra: Ódio
A mais ‘stranha sombra que lhe atenta,
Sou eu, o Ódio que lhe alimenta.
A personificação de toda tua dor,
Angústia, ansiedade, transtornos e rancor!
Graças a mim trazes o coração
Frio e repleto de avançada podridão.
Sou teus familiares que nunca lhe amaram
E teus três amores que lhe rejeitaram!
Sois apenas uma engrenagem inútil
Neste mundo horroroso, macabro e fútil.
Se desta corrente quiser escapar,
Faça o melhor – vá logo se matar!
A sétima sombra então se empertigou;
O grupo das seis numa nuvem se desintegrou.
O ambiente ficou gelado!
Seu rosto era como uma caveira
Portando desgrenhada cabeleira –
Fiquei ainda mais espantado!
Eu:
Quem és, espectro frio
Que vens para me assombrar?
Não me lembro de tê-lo visto
Em qualquer outro lugar.
De que canto negro do meu crânio
Você se originou?
De qual empoeirada lápide
Você se levantou?
A sombra:
Sou a triste sorte que lhe espera.
Sou tua morte! Esta cruel megera
Que ao frio túmulo irá te levar.
Antes mesmo de ter algum poema lido;
Sem nem ao menos ser reconhecido –
Sem ninguém para lhe chorar!