Canta ou cálice
Gritei um outro grito.
Aquele era surdo, era mudo,
Ninguém gosta de ouvir o absurdo.
Cantei um outro canto.
Achei que aquele era um desencanto,
Enquanto este, nem tanto.
Sonhei um outro sonho.
Sonhei sobre o grito,sobre o canto,
Sob o mito, sobre o silêncio, sob o rito.
Falei de outra fala, não da que cala
No canto da sala diante da tela.
Ela não tem encanto.
No canto da sala não tem canto,
Só quem fala, é o desencanto,
De tanto que sai da boca.
Da boca, quando calada,
Vem o calar que sai da fala
E se esconde no silêncio,
No canto da boca
Calejada de estranhamento,
De desejo de não se calar,
Mas de falar,
Mesmo que não seja do vinho,
Pode ser do simples, do cálice.