Culto à Cegueira
Não quero olhar nada com novos olhares
Não quero ver além do que já vejo
Nem aprofundar-me na essência das coisas...
Não quero construir, nem tampouco desconstruir
O que existe de forma tão espontânea.
Não quero a racionalização do mistério,
O emparedamento das sensações furtivas.
Quero aceitar a existência com naturalidade
Quero viver a superficialidade da vida...
Contemplar só o que está exposto, externo.
Só o que se mostra, simples e conciso.
Nada de elucubrações metafísicas!
Nada de abstrações filosóficas!
Jamais devanear pelas especulações quiméricas...
Sobre as sinfonias do Acaso!
Quero ser livre sem teorizar a liberdade
Quero viver sem questionar a vida
Sem crises existenciais e cosmológicas...
Quero curtir o momento sem desprendimentos
Sem se preocupar com estética, lucidez, raciocínio.
Quero o sentimento primitivo e atávico
Da sobrevivência natural e voluntária...
Que nos impele a olhar a realidade... sem poder enxergá-la.
Quero a embriaguês da cegueira cultural, social e ideológica.
A perturbação da lucidez e o obscurecimento da razão
Contra todos os questionamentos insofismáveis...
- Contra tudo o que não seja libertação e transitoriedade.
Um culto à esquizofrenia, ao daltonismo e a ignorância!
(Escrito em 26 de maio de 2010. Depois de participar de uma palestra sobre um documentário sobre a "perspectiva de novos olhares". Achei o discurso extremamente demagógico e insolente. Como sempre academicista!)