Amor e Ódio

Hoje eu fui muito feliz

Senti uma rosa exalando perfumes

Aroma que traz de raiz

Onde brilhantes e vagos ciúmes

De dores diversas, de idéias mil

Controversas figuras; um senil

Que canta em voz alta...

Mas a luz, que, da ribalta,

No meio pueril, não se embriagou

Fez do meu caminho tortuoso

De luto e desamor

Um rosário de paz venturoso.

Essa rosa, muito dengosa,

Faz de mim um homem forte

Com sua forma, formosa

Uma fôrma apontada pro norte

Norteia-me e esconde-me nos braços

São lindos os seios, são belos os meios

São claras as formas e os traços

O sorriso que canta e encanta

Faz de mim seu servidor...

Seu escravo de pele e de amor

Sua voz é canção, é um mantra.

E por que essa rosa não veio

Antes que a despetalassem?

Escuto Pavarotti cantar Caruso

E obrigo-me a pensar num meio

De não lhe ver em "camicase"

Por um amor amargo e confuso

Pois o amor que tivera

Um sórdido, um vulgo, um verdugo

Réptil, musgo, espadaúdo

Carcomida, pestilência social,

Abrigo da miséria, palco da pilhéria

Simbiose de homem e molusco

Patusco, verme, verminose

Que suga, que suga-sangue exangue.

Por que minha flor serena, simbiose

De paz e amor, não me veio antes?

Por que minha vida,

Antes da mulher sofrida

Nas mãos de um peste, um pesticida

Não me chegou moça ainda?

E eu na mocidade aguerrida

Para salvar minha mulher querida

Das mãos de um vil gladiador

Das entranhas de um víbora sugador

Não irrompi com furor

Antes o que o sol nascesse

Antes que escurecesse

Antes que a tarde ficasse tarde

Para caminharmos, a sós, por aí

Sem máculas, sem traumas

Na calma do mundo

Onde eu seria menos profundo.

Por que só agora, já que sempre a vi

Nos meus sonhos, nos meus caminhos;

No canto dos pássaros, da amiga Juriti...

Por que só agora, no meio dos espinhos?

Eu não a quero longe, inda que ali;

Ainda que aqui dentro de mim...

Levei anos para encontrar o que perdi;

Levei anos para saber que estava aqui;

Precisei dormir; dormir para acordar;

Para sorrir, para voltar, para sentir;

Para saber de mim. Em nunca vivi...

Agora eu a quero mais que tudo

Fui ao fim, voltei, estou aqui!

Aqui estamos nós, do absurdo mundo

Mundo do absurdo, frente-a-frente

Sorriso nos dentes, um frenesi

Constantes galanteios, abraços, beijos...

Sons de realejos, pernas cruzadas

Entre pernas, entre coxas amadas;

Sexo no sexo, ato de amor com nexo;

Saudades multicores, peitos no peito;

Uns trejeitos, uns esfregas, entregas...

Um amar sem fim, um perguntar por mim

Por ti, onde está, onde estavas

Saí, zanguei... Não é assim! Cava

A alcova pra mim! Encrava em mim

No meu peito, o direito, o torto!

Por favor, amor, ame-me com força!

Esqueça sua outra vida de moça...

E, madura, ouça o cantar do meu amor

Canto sofrido, de dor, de querer...

Um amor que dói por estar longe de você.

Ubirajara Sá
Enviado por Ubirajara Sá em 03/07/2010
Reeditado em 24/12/2011
Código do texto: T2356710
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