A MORTE DO PRANTO

Grita, meu pranto, o choro sórdido das vicissitudes do ser,

Se mostra cântico agonizante e pérfido, rio de lágrimas,

Descendo ao teu ventre o desânimo fétido, ninho de fábulas

Se faz súbito, ó pranto meu... anseias viver?

Se me pedes o sal e o mosto, riso sem gosto, sangue fervente,

Sentes a fúria do tempo, o gelo da alma, o romper da semente,

Desnuda seus sonhos mais sujos, transpõe a desgraça do escuro,

Desejo insano do medo, de teu intestino os segredos, que se negam a perecer.

Desce à tua sepultura, disputa tua carne com os vermes! Congela-os com tua alma!

Morre, ó pranto meu, tu és benoni, filho de minha dor!

Te negas a morrer, mas sabes do teu destino:

Queimarão tuas vísceras, teus intestinos, em sôfrego ardor!

Se ainda és pranto, amiúde, acalanto, centelha da chama da vida,

Desvelar da angústia dos seres terrenos, vingança da alma sangrenta,

O que te alimenta? A angústia dos seres viventes? Ou dos homens, o ranger de dentes?

Os infortúnios dos peregrinos? Ou a dor de órfãos pequeninos?

Não mais importa! Diante da Deus, és nada em nada!

Não mais tormenta, pela madrugada, mas tristeza inexistente!

Não mais ferida, mas chaga fechada, labor sorridente.

Queres miséria? Não mais terás. Por que tua hora, ó infame, não tardarás!