Poema Puro

O que te faz pensar essas coisas,

Margarida?

Tu mesmo que não sabe

Se é anônima, se é Maria.

Não sabe se é Helena

Se é Fernanda, se é Francisca.

Se é ouvinte, se é comida.

Que veste vestidos longos

Vermelhos e pinta olhos

Que faz tudo no sereno

Da noite, da jogatina.

E nada te fez pensar,

Tantas coisas, Margarida!

Tua cabeça é um naco

É um dado, um nada,

Um estilhaço.

E teu coração,

Sem poesia, ferrenho

Ardido, meticuloso,

Todas as noites

Nem todos os dias.

E quando acordas,

Margarida?

Já é tarde, e tarde

Pensa

Em nada

E no meio da tarde

Ainda dormindo

De olhos abertos

E fechados

Não sei se declama

Ou reclama da vida

Não sei se é bandida

Ou se é uma diva

Tu se passa por todas

Margarida!

Na pele de muitas é nada

E do nada resplandece

Desce a terra

Apodrece e desfalece

Mas se refaz

Como anjo

E brilha

Sempre,

Como nunca.