Um louco entre nuvens

Essa nuvem cinza vem chegando bem perto de mim.

Esse nevoiro me sucumbe os dias.

Meu tempo é capturado por essa nuvens.

Eu vivo entre bichos, cobras e lagartos.

Meu lar é um lixão.

Minha casa é a solidão.

Eu navego em águas curvas: curvas do tamanho do céu.

Eu viajo pelo amarelo do fogo do inferno.

Eu vejo ratos, baratas.

Eu presencio a loucura dos homens.

Eu vejo a maldade entre irmãos.

Vejo gente devorando gente.

Irmão perseguindo irmão.

Eu vivo só na loucura da solidão.

Entre gente vãs, irritantes e vazias; eu me vejo perder nos dias.

Esta loucura é uma doença que consome minha carne.

Esta loucura me persegue até a alma.

Pois, eis que minha vida é constantemente capturada por nuvens cinzas e extensas.

Meu caminho é ledo engano.

Minha vida é sobretudo linha torta.

Minha marca é a marca do zero.

Sou um doido entre nuvens, tentando encontrar um vaga-lume ou qualquer coisa que me ilumine.

Eu nem sei o que é paz.

Caminho entre nuvens saltitantes.

Eu salto por nuvens caminhantes.

Caminha, nuvem, caminha.

Meu caminho é cinza escuro.

Minha vida é toda marcada.

Eu sou o espinho fincado na carne.

Eu sou sangue lascado.

Eu sou pedra rajada escura.

Eu sou tristeza arrancada de uma alma trouxa e sonhadora.

Minha carne pede.

Minha alma sede.

Meu caminho é dolorosa loucura.

E eu me encontro do lado de fora de dentro de mim.

Eu sou uma imagem distorcida e retorcida.

Eu sou uma cadeia pegando fogo.

Eu sou uma aldeia de um só povo.

Sigo, então entre nuvens pelos caminhos da terra vermelha da cor de sangue.

Eu sou puz semeado na veia.

Eu sou sangue expelido da carne exposta.

Caminho entre nuvens, vertigens.

Caminho entre laços, desembaraços.

Eu sou tudo aquilo que faço e até o que não faço.

Vivo entre nuvens no céu e no ar.

Vivo tentando dessa dor me desafogar.

E eu não quero no mar de lágrimas me afogar.

Eu caminho por entre nuvens, desafios, caminhos e descaminhos.

Venho implorando por alegria, mas só encontro sofrimentos.

Minha pele dói.

Meu sangue escorre por entre dedos.

E eu percebo, que não percebo, que nunca percebi, que não percebia, que o mundo, por algum motivo me punia por querer viver.

Mas, eu vou seguindo, vivendo minha loucura em profundo desespero.

Eu sou seguindo sorrindo e chorando.

E vou sangrando dia e noite.

Vivendo uma dor dilacerante.

Vou me afrouxando de maneira sufocante.

Vou me apertando de maneira única.

E vou seguindo caminhando parado.

Vou parando na caminhada do amanhecer.

Vou me vendo a cada dia envelhecer.

E assim vou me vendo perder.

Vou vivendo gemendo e chorando, navegando dia após dia por entre nuvens.

Marcos Welber
Enviado por Marcos Welber em 23/06/2010
Reeditado em 24/06/2010
Código do texto: T2336986
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