Entre o sonho e a fantasia...à moda dantesca!
Em meio a um negro sonho, em meio ao nada,
Numa noite sem fim, próximo a feras,
Vaguei como um ninguém por uma estrada
Repleta de Leões e de Panteras...
Eu vi imagens sombrias ao meu redor;
Loucos fantasmas, entre vis esferas,
Dançavam nus ao ouvir gritos de dor
De uma alma infeliz que ali gemia...
Vi um anjo com semblante assustador:
Olhos de fogo, asas de energia,
Mãos de pedra sabão, pés de diamante
E uma boca de fogo, que assim dizia:
“Pobre humano orgulhoso e claudicante,
Que vê num sonho a imagem do irreal,
Como quem vê no amado o amor da amante,
Reflexo torto, atroz, vil e surreal
- No instante inconsciente de quem sonha
Não se pode saber o que é ou não real:
Toma, fuma um cigarro de maconha,
E volta novamente a realidade.”
A voz do anjo era assim, forte e medonha,
Como a voz de uma nobre potestade
Que faz do céu divino o seu lugar...
Nos seus olhos não havia medo ou maldade,
Apenas luz dançando sem parar
Como a poesia de um ser apaixonado...
Ele tocou-me a mão, bem devagar,
Num gesto simples, belo e delicado,
Como quem toca na alma de um poeta...
Fiquei com medo, impávido e calado,
Aquele anjo, de vida tão repleta,
Fez de mim pobre verme, um nada eterno,
Forma imperfeita, opaca e incompleta...
Ele me disse: “Ali fica o inferno,
A casa plena e santa dos humanos,
Reino de dor, imenso e frio deserto,
Lugar de reis, mendigos, soberanos,
De onde ninguém escapa, quando morto...”
Eu fiquei mudo, vi ruir os meus planos.
Perto da porta olhei quieto e absorto
Como quem olha o espelho da verdade...
Vi um barqueiro cego e um velho porto,
Vi o próprio sofrimento e a crueldade
Representados, ambos, num só instante
- No barco atroz de imensa realidade
Que transportava a alma de um infante,
Simples matéria, aborto frio e infeliz...
Disse assim, pra mim o anjo: “aquele é Dante,
O poeta que amou a bela Beatriz
E nunca mais voltou para o seu mundo,
Pois o poeta aqui é sempre feliz.”
Olhei pra frente e vi no rio imundo
Almas queimando sobre a água em chamas,
Vi meu futuro ali num só segundo,
Seres marcados pelas fortes flamas
Clamando loucos pela piedade...
Notei num canto roupas sobre as camas
Como quem nota, enfim, certa afinidade
Entre a imagem e o espelho que reflete:
Jogo entre o sonho e a louca realidade,
Jogo entre a barba e o corte da gilete,
Jogo entre o verso e a própria fantasia...
Neste momento alguém me deu um bofete;
Era minha mãe, louca de agonia
Gritando assim: “Acorda vagabundo,
No meu relógio é quase meio-dia,
Quem quer só cama nunca ganha o mundo;
Já lhe falei pra não fumar maconha,
Para viajar pro além pro mais profundo;
Filho, você me mata de vergonha!”
Saltei da cama, rápido e suado,
Gritando alto: “Que visão medonha,
Sonhei que estava mesmo abandonado
No frio inferno, negro e pavoroso,
Por um anjo, julgado e condenado,
Quero é viver, viver é mais gostoso...”
Eu disse isso e voltei-me e apeguei a vela,
Foi quando vi um anjo indecoroso
Piscando o olho azul lá da janela;
Eu fiquei ali calado a me indagar:
“Se a mente humana é mesmo fina tela,
Então o real é um sonho singular!”
Em meio a um negro sonho, em meio ao nada,
Numa noite sem fim, próximo a feras,
Vaguei como um ninguém por uma estrada
Repleta de Leões e de Panteras...
Eu vi imagens sombrias ao meu redor;
Loucos fantasmas, entre vis esferas,
Dançavam nus ao ouvir gritos de dor
De uma alma infeliz que ali gemia...
Vi um anjo com semblante assustador:
Olhos de fogo, asas de energia,
Mãos de pedra sabão, pés de diamante
E uma boca de fogo, que assim dizia:
“Pobre humano orgulhoso e claudicante,
Que vê num sonho a imagem do irreal,
Como quem vê no amado o amor da amante,
Reflexo torto, atroz, vil e surreal
- No instante inconsciente de quem sonha
Não se pode saber o que é ou não real:
Toma, fuma um cigarro de maconha,
E volta novamente a realidade.”
A voz do anjo era assim, forte e medonha,
Como a voz de uma nobre potestade
Que faz do céu divino o seu lugar...
Nos seus olhos não havia medo ou maldade,
Apenas luz dançando sem parar
Como a poesia de um ser apaixonado...
Ele tocou-me a mão, bem devagar,
Num gesto simples, belo e delicado,
Como quem toca na alma de um poeta...
Fiquei com medo, impávido e calado,
Aquele anjo, de vida tão repleta,
Fez de mim pobre verme, um nada eterno,
Forma imperfeita, opaca e incompleta...
Ele me disse: “Ali fica o inferno,
A casa plena e santa dos humanos,
Reino de dor, imenso e frio deserto,
Lugar de reis, mendigos, soberanos,
De onde ninguém escapa, quando morto...”
Eu fiquei mudo, vi ruir os meus planos.
Perto da porta olhei quieto e absorto
Como quem olha o espelho da verdade...
Vi um barqueiro cego e um velho porto,
Vi o próprio sofrimento e a crueldade
Representados, ambos, num só instante
- No barco atroz de imensa realidade
Que transportava a alma de um infante,
Simples matéria, aborto frio e infeliz...
Disse assim, pra mim o anjo: “aquele é Dante,
O poeta que amou a bela Beatriz
E nunca mais voltou para o seu mundo,
Pois o poeta aqui é sempre feliz.”
Olhei pra frente e vi no rio imundo
Almas queimando sobre a água em chamas,
Vi meu futuro ali num só segundo,
Seres marcados pelas fortes flamas
Clamando loucos pela piedade...
Notei num canto roupas sobre as camas
Como quem nota, enfim, certa afinidade
Entre a imagem e o espelho que reflete:
Jogo entre o sonho e a louca realidade,
Jogo entre a barba e o corte da gilete,
Jogo entre o verso e a própria fantasia...
Neste momento alguém me deu um bofete;
Era minha mãe, louca de agonia
Gritando assim: “Acorda vagabundo,
No meu relógio é quase meio-dia,
Quem quer só cama nunca ganha o mundo;
Já lhe falei pra não fumar maconha,
Para viajar pro além pro mais profundo;
Filho, você me mata de vergonha!”
Saltei da cama, rápido e suado,
Gritando alto: “Que visão medonha,
Sonhei que estava mesmo abandonado
No frio inferno, negro e pavoroso,
Por um anjo, julgado e condenado,
Quero é viver, viver é mais gostoso...”
Eu disse isso e voltei-me e apeguei a vela,
Foi quando vi um anjo indecoroso
Piscando o olho azul lá da janela;
Eu fiquei ali calado a me indagar:
“Se a mente humana é mesmo fina tela,
Então o real é um sonho singular!”