A VOZ

Ah, mas aqui aonde erreis,

sim erramos.

meu coração é um marinheiro

louco sem barco.

A praça da bandeira fica ali

pela manhã

e a noitinha um pouco pra lá

e com uma voz de mar

cessa a bruma.

A minha vida é um barraco abandonado

sem festa a acho tão natural que jamais pensem

a criança que fui chorava na estrada real,

aos quintos dos infernos.

Vago entre o sono e o sonho

jamais saberei quantas almas

penadas terei, pois para ser pequeno

tive a iniciação no amor

com a negra Tânia na quentura do fogão a lenha

e nunca guardei-lhe magoa

por ter me arrebentado o cabresto,

mas meu olhar ao entardecer ficou mudo.