A Prisão
Vou lhes dizer o que eu ouvi enquanto estive lá,
E o que os homens conversavam pelos corredores,
E o que os meus olhos enxergaram,
O que as janelas escondiam,
E as grades protegiam.
Vou lhes contar o que nunca devia ter visto - lá,
E de que maneira eles nos mantiam quietos,
E o quanto nós tinhamos medo deles,
O quanto nos silenciaram,
E nossa voz calaram.
Vou lhes contar porque eles nos mataram lá,
E de como torturaram as nosas mentes frágeis,
E como cegaram nossos olhos para o mundo,
Como deixamos de existir,
E sofremos em silêncio.
Vou lhes contar não sobre ditadura, censura
comunismo, nazismo, budismo, cristianismo,
cientismo, ocidentismo, niilismo, terrorismo,
facismo ou incredulismo.
Vou lhes contar sobre meu exilio em mim;
Lembro-me de uma noite sem estrelas,
e de outra com estrelas; não sei exato agora
em qual delas que tudo aconteceu,
mas, quando acordei já não existiam mais estrelas ou luas;
E os homens circularam com pedaços de mim,
com idéias de mim e projetos de mim.
As minhas unhas ficaram presas na parede,
e eu me calei depois de perder a cabeça;
Fiquei exposto ao meu eu,
E com o medo de meus pesadelos existirem,
Descobri que existiam e não eram poucos
Lá, tudo foi tão real...
Lá, eu fiquei despedaçado,
Por tanto tempo que ainda me faltam pedaços...