Noites
De uma janela aberta e antiga
Estou a olhar as noites
Uma que é real
Outra que é infernal
No antro das outras noites
E há mais uma ali!
Quantas mais aqui!
Aos sonos serenos
Dos olhos morenos
Da amante Gabriela
Ouço a campainha
Abrirei as minhas portas
Medo do desespero
Que o tempo nas sombras plantou
Meus passos estão nos teus caminhos
Nos trilhos das mesmas dores
Trafego pelas ruas da escuridão
Olho outras janelas
Os corpos de outras mulheres:
Amadas e amantes se vão!
Ao longe uma estrela
Mas perto – no andar abaixo -
Vejo uma prostituta e a vela
Na cabeceira de seu leito
E um Dom Ruan passageiro
A lhe dizer que é bela
Na esquina de minha noite
Sempre existiram lindas mulheres
Horrível não desejá-las
Em suas mais ternas primaveras...
Loucura!
No bar da rua paralela
Tantas gentes conversando
Sobre os signos e a lua
Vejo lábios umedecidos
Anjos amam-se divertidos
Mãos suaves pelas formas nuas
Outras doidas como os ventos
Atrevem-se sobre as pernas
Tecem cabelos retingidos
Por ardorosos pensamentos...
Tenho medo de novas noites
Iguais às que as minhas são
Desejo deitar e esquecer
A vida de tantas gentes
Em desilusão!
Tantas lutas... Tantas frentes
Uma cicatriz em cada corpo
Uma faca... Uma navalha
Uma corrida desesperada
Um tombo ali
Outro aqui
- Quantos mais ocorrerão?
Estou a olhar novas janelas
Um senhor parou ante a luz dum poste
Chamou a menina e sorriu...
- Meu Deus do céu!
É minha sombra que está ali
Disfarçada de respeito
Quer dormir no mesmo leito
Eleito por muitas noites
Vejo a lua e vejo a rua
A mulher... O caminho... A escada
A prata de um colar em um pescoço
E sinto o cheiro da avenida
Míngua a luz
Serve-se uma bebida
...Os cabelos da vida são lisos e úmidos
Os seios doces e as mãos tão quentes
Nos arrepios dos corpos
Felizes os sonhos
Quando madrugam em rumos novos
Felizes as noites
Que nos desesperos são aromas
De românticos enleios
E determinam por apagar do mundo
Meu receio misterioso de se aventurar...
Gigio Jr (Poemas da Juventude-1977)