AMOR DE BICHO E ANJO
E se a gente amasse assim.
Como dois bichinhos ocultos no meio do mato,
sob o manto sagrado do céu estrelado,
murmurando baixinho... quase calado,
eternas juras de amor.
E se a gente amasse assim,
como dois retardados dementes,
escandalizando espíritas, católicos e crentes,
zombando da virgindade da virgem Maria,
debochando da sagrada missão de Jesus Cristo Nosso Senhor.
E se a gente amasse assim,
deitados na relva noturna de rosto pro alto.
Contemplando o encanto sublime do luar prateado,
e a beleza de São Jorge montando em seu divino cavalo.
Imaginando viver num paraíso encantado,
habitado por magos fadas e faunos,
tocando e cantando música de amor.
E se a gente amasse assim,
como dois canibais famintos no meio de noites escuras,
uivando e gritando com toda luxúria diabólica e insana.
Profanando jazigos de ricos e suas inúteis fortunas.
Devorando aos gritos essas pobres almas impuras.
Indiferentes ao medo, ao sofrimento e a dor.
E se a gente amasse assim,
como bicho e anjo.
Como deuses e demônios.
Como alma sublime e decadente.
Como gente contente e desconte,
que ama e desama, que ri e que chora.
Que é capaz de matar e morrer por amor!
E se a gente só amasse assim?
E se a gente não amasse assim?
E se a gente não amasse.?