Advérbio vital

Sempre. Nunca. Não. Jamais. Sempre fui uma pessoa que odiava generalizações. Certamente, esse sentimento não combinava com a minha realidade, pois era pai de doze filhos sem nunca ter me casado oficialmente. Jamais amei uma mulher. Até desconheço essa sensação. Não gosto. Não amo e nunca amarei. Para muitas pessoas o destino determina os passos dessa vida. Mas, no meu caso a única coisa que vale a pena é acordar todas as manhãs, recordar alguns momentos, respirar fundo e voltar à realidade. Desejo me entregar. Entregar-me à solidão, à mágoa e me banhar com o sangue que marcou as paredes do meu coração de pura incerteza e arrependimento. Não tenho fé, mas o espero o milagre de ter os meus filhos de volta, no sentimento do perdão, da saudade pelos que já se foram e, principalmente, acredito em acreditar em algo. Apenas nove letras resumem o que o meu coração busca. Além de um verbo no infinitivo, uma esperança. Sou contraditório e me orgulho de ser assim. Mas, aceitar as diferenças, dar sustento a quem precisa e transpor as vontades em ações podem ser satisfatórias. Se não fossem todos nós estaríamos comemorando o ódio, contemplando a falta de perspectiva, mergulhando em um mar de desespero, chorando lágrimas ácidas e corrosivas tendo a morte como uma motivação vital.

Quero acreditar, quero sentir, quero respirar sem culpa, quero amar, quero errar, quero perdoar, quero felicidade, quero vida e quero que as palavras voem cada vez mais, pois quando estão unidas podem transformar um simples ser humano como eu em um 'escritor'. Não busco fama. Busco orgulho. Ao invés de músicas, busco batidas de coração mais aceleradas. Eu quero mais sangue correndo em minhas veias tão secas. Sangue para viver intensamente cada momento e para morrer sem culpa, pois quando os olhos se fecham restam apenas as memórias do que eu fui ou poderia ter sido. Que contradição trágica. Antes de encerrar e manter a reflexão em sua mente gostaria de revelar o meu nome. Também me desculpo pela falta de educação por não tê-lo citado inicialmente. Mas, preferi contar a minha história o mais breve possível a perder as palavras que voavam rapidamente pelo ar. Em meio à multidão de letras fui premiado com (...). Preciso revelar que não tenho nome. Sou apenas uma pessoa que vive sem desejar a vida e que se contradiz a cada segundo. Para que eu existo? Mais um número, mais uma boca, mais um coração e mais um óbito. Quero ser mais que cinzas lançadas ao ar.