Doce de Morfina
Tijucas, 21 de fevereiro de 2010.
Sejam Mal – vindos!
Deixem seu bom gosto na porta, o que ilumina do lado de fora.
Entrem!
Perturbem-se, odeiem-se, vivas a meu cemitério vivo.
Tenho algo importante a dizer!
Não me ouçam como ventos em floresta vazia, não me saboreiem como holocausto sadio.
Nunca esqueça que as nuvens olham pra você. Sempre prometa que nunca vai contar o que as paredes ouvem.
Vão sentando... As almofadas são de rocha.
Isso irrita? Quanto sonho!
Isso machuca? Quanta majestade!
Isso vive? Quanto ódio!
Isso piora? Quanta sorte!
Acomodem-se... Não vai doer pouco!
O que gostariam de beber?
na minha festa reina uma ampola de veneno glicose.
Levantem-se para dançar. Se doer, eu tenho a cura, se lamentar, eu tenho o grito, de amedrontar, eu tenho a risada, se arrepender eu tenho a mentira, se morrer eu tenho os parabéns e uma infinidade de passos.
É só levantar e dançar.
As oportunidades não costumam falar seu nome, mas devemos chamá-las de agora. O perigo não costuma se apresentar, mas devemos tratá-los de “eu”. O desespero não costuma ser visível, mas para encontrá-lo devemos encarar o espelho.
Não me toque, sou uma péssima influência.
Já vão? Ainda é cedo!
É no tratar do teu medo que posso me lambuzar de plasma. Só me acalma saber que lhe resta pouquíssimos segundos.
Esperem, tenho uma surpresa a todos!
Qual santo não vai ser aclamado? Por que não executar os conhecidos? Qual o problema em tranqüiliza-los com minhas garras?
“ Nossa Senhora número 12, favor comparecer a recepção.
“Alice, pare de correr neste país de maravilha nenhuma.”
“Branca de Neve, aceita uma fruta?”
“Alguém peça para aquele moço com coroa de espinhos levantar a cabeça.”
“Acenda a lareira para aquele senhor de trenó vermelho.”
“Gabriel, me empresta sua aureola um minuto?”
Alivio, sanados, aliviados.
Estão todos satisfeitos? Não se façam de rogas, podem repetir o doce.
No que puder ajudar, estou ao dispor... Ajudar, amar as perdidas criaturas, é só o que faço.
Minimizar as alegrias, desmoronar os confortos... A ilusão mais saborosa.
Desagradável por terem vindo, voltem sempre... Bem logo ...Instantes... Nem vão, fiquem!
Mais um doce, mais uma dose, mais alguns horrores...
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Douglas Tedesco, às 17h e 16m.