COLHEITA

Que barganha foi essa?

Troquei uma dor antiga

Por outra mais recente

Um coração passivo

Por outro mais carente

Um sonho adormecido

Por outro delirante

Uma ilusão perdida

Por outra mais cortante

Antes era a paixão,

Depois a ilusão de algo que se diluiu

Agora é a dor viva, vívida, lacerante

Ressinto-me da dor do amor ausente

Ressinto-me da distância incoerente

Levanto a bandeira branca

E peço clemência e paz

Mas, não ouves, não, falas, não vês

Que barganha boba

Troquei seis por meia dúzia

Não! Já decidi

Não te verei nunca mais

Nem te chamarei jamais

Nem por um segundo

Quero o silêncio pleno, não o caos

Mas o que me dói ainda

É esta mudez escandalosa

Entre nós, só um hiato,

Um abismo tão profundo

Troquei o dito pelo não dito

Mas foi preciso

Deu pena! Era tão bonito

E então, excluí teu perfil do coração

Em um clique te apaguei

Sem compaixão

Mas o silêncio maldito

Escondeu o teu delito

Foi por isso que chorei

Debulhada em sal sem Sol

Dou agora tempo ao tempo

Só lamento

Sei que isso não plantei

A colheita não é minha

Com doçura de menina

Tudo que fiz foi te amar

Da minha parte,

Cansei!

Existe uma lei divina

E quem plantou, vai ceifar.