Tentação

Eu a encontrei cedo demais

Ela conversava comigo e dizia mansamente

Quanta dor pode suportar nesse corpo inocente

Não que ela não soubesse, mas fingia pra me assediar

Aquela voz vinha como uma harpa e suas cordas me prendiam

Ela me acordou e vi a sujeira

O chão nodoso e molhado de sangue

E meus pés nus sobre o soalho me gelavam

Eu vi que também estava sujo e quando caminhava

Observava os vidros no chão e percebi que ainda gemia

Ela me lembrou de apagar a luz e voltei pras minhas quimeras

Voltei para meu sonho adocicado

Me lembrei da lareira e do fogo crepitando

Sobre a palha quebradiça como seus cabelos que ali pairavam

Sentei me na poltrona admirando a arcada celestial de sua boca

Lembrei do seu beijo seco, acho que ela é mais linda quando você grita

Os sons antigos soam sobre a agulha

As marcas de mãos na vidraça embaçada

O meu olho fixa a imagem girando na parede

Amarrada sufocada como a mosca presa na teia

Ela me tenta e eu não quis quebrar a espinha torta

Eu não posso mais sair do chão enquanto ela chora

Ela me perguntou se eu precisava de ajuda

Eu tentei não ouvir mas isso me corroeu o cérebro

Enquanto eu admirava o quadro manchado rubro

Minha orelha sentia o frio da sua voz magnânima

Minhas vontades cederam a mais uma dose de animo

E minha ressaca encheu dois copos de pura vingança

Eu a ouvi falar

Ela só ouviu o disparo...

Eduardo Melin
Enviado por Eduardo Melin em 19/01/2010
Código do texto: T2037960
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