Duas Velhinhas Macabras
Eu vejo sempre andando de mãos dadas
Aqui em meu bairro, duas velhinhas macabras.
De manhã, de tarde ou quase anoitecendo
Lá vão elas sem direção com a animação de quem está morrendo.
Sem brilho nos olhos, ou demonstração de vida.
As velhinhas seguem assim por toda a avenida.
Com seus olhos fixados sempre à frente,
As duas velhinhas, às vezes, passam sorridentes.
Uma delas parece a mais velha
É insuportável ter que olhar para ela.
Sua boca com dentes completamente escuros.
É quem sempre anda se arrastando pelos muros.
Usa calças que só vivem desbotadas,
Seu olhar parece sugar a energia de minh’alma.
Quando passo sempre me fita com desprezo.
É um olhar intenso que o que eu sinto na hora é medo.
A outra parece meio perdida.
É carregada pela companheira por toda a avenida.
Usa vestido com flores desbotadas,
Usa um prendedor de cabelos que parecem duas araras.
Seus dentes são pontiagudos e para frente
Seu sorriso é de alguém meio demente.
Carregada, parece viver em seu mundo
Perdida nos seus pesadelos mais profundos.
Sempre que passam sentimos arrepios.
Uma sensação estranha, mistura de medo e frio.
Qual será o mistério dessas duas?
De onde vêm? Para onde vão?Qual o caminho da sua locura?
O que eu sei é que não consigo encará-las.
Sempre que passam faço questão de virar a cara.
Sabemos que somem de repente, assim do nada.
Oh Deus, me proteja de tais criaturas macabras!
Uma criança as viu entrando em uma vila.
A mesma vila em que houve uma série de aparições.
Seriam elas duas bruxas do mundo real?
Ou seriam apenas nômades assombrações?
No bairro todos agora as temem.
Todos têm medo do que possam fazer.
Pode ser que sejam apenas senhoras sozinhas.
Esperando tristes e ansiosas o dia em que irão morrer.
Talvez sejam tristes e só tenham uma a outra.
Talvez sejam velhinhas que ficam dias inteiros bordando roupas.
Mas a aparência diz muito hoje em dia.
Aparências enganam, mas preferimos as mais sadias.
Então essas senhoras que julgamos macabras
Um dia desapareceram sem dizer nada.
Todos no bairro começaram a especular
Que para o inferno elas enfim quiseram voltar.
Agora nas noites muitos juram que as viram vagando
Com o mesmo sorriso e com roupas rasgadas.
Pois agora o paradeiro delas não se sabe.
Pois agora para nós viraram almas penadas.