INFERNO

Posso sentir o exalar de minha carne

Aflora-me pedaços estes

Mas tudo está em seu lugar, nada tirado

Foi-me arrancada apenas alma de imortal dor.

E este ser que me transformei

Aberro-me, sou o castigo do que castiguei

Dilacerava-me a passos curtos e nem notei

E ao abismo entreguei-me com prazer.

Clamor de misericórdia ouve-se

Mas meu pranto já se calou em conformo

Minhas vestes banhadas neste sangue

Vinagre, sal, estacas fazem-me rir.

E neste mundo vivo a matar-me

Acostumei-me com meu odor molhado

Dias e noites já não enxergo mais

Estou atarefado à minha própria dor, sadismo de mim.