E agora?
Um prego na parede,
a janela fechada,
o violão pendurado,
um banquinho do lado,
estou entediado,
E agora...
A chuva la fora...
Cadê a inspiração.
Pra escrever uma canção.
O filho preguiçoso,
sonolento, teimoso,
diz à sua mãe,
pouco me importa,
se sou réu,
bato a porta,
sou mesmo cruel,
vê se entende,
ou então suporta.
A aca da porca,
que vem da vizinha,
ou será da cozinha,
sei lá,
nem quero saber.
E agora!...
A chuva la fora...
Cadê a inspiração,
pra escrever uma canção.
O meu corpo dança,
no meio do quarto,
ouve-se um grito,
que vem da esparrela,
foi a cadela,
ou foi a Maria...
Não fiquem aflitos!
Foi uma cria!
Ai que agonia!...
Oito filhotinhos,
o ultimo caiu,
morreu no vazio...
E agora!...
A chuva la fora...
Cadê a inspiração,
pra escrever uma canção.
O outro filho vê,
diz, pode crer,
você tem talento,
a calmaria dum vento,
na frente, no fundo,
compositor e poeta,
o maior do mundo.
Tem tanta inspiração,
Na alma, no coração.
Mas, bondade a dele,
que extravagância,
santa ignorância.
E agora!...
A chuva se foi...
Não veio a explicação.
Não escrevi nenhuma canção.