DEVANEIOS

Os mundos perambulavam vagarosamente sobre si,

as pessoas estão sob esse firmamento abrupto

e debaixo dos mares vermelhos

estão os arcabouços doentes

daqueles desgostosos falecidos embriões deformados.

A estrela filha, fazia fila figurando no fulgor

a imagem exacerbada do contingente excessivo

forçado a ser forte

e não temer a fúria marítima

no período de Artêmis Repleto.

Durante muito tempo

ficou proibida a caça de asteróide,

mas numa determinada eventualidade

ele foi capturado.

Depois daquele dia,

quase noite,

em que devaneios devoraram doutores dementes

durante um duelo divino

no abstrato céu de deletérios

convencidos de que serpentes detestáveis

e descartáveis descobriram a verdade doentia,

mas o que houve foi que o verme

que viu a viúva ser violada,

violentada e mascarada com o pano negro,

aproveitou-se do momento

para desossar aquela figura desfigurada pelo tempo.

Já jovem, jurou jamais jurar,

mas jurou por si mesmo

que não foi ele

o responsável das jornadas nas estrelas,

batalhas travadas, destravaram as espécies especiais

expostas nas costas,

das quais a lentidão cedeu lugar

ao imponente flash das câmeras fotográficas,

introduzindo assim, num simples rascunho de papel

a mesma desfigura envelhecida.

Permaneciam penduradas pelos pergaminhos perversos,

palavras perigosas pouco populares

que foram usadas inadequadamente

pelas bocas imundas inundadas de pouco conhecimento

contra a subsistência do amor,

traindo assim a experiência de amar.

Chocado com a clareza conturbada

na calada da madrugada,

não foi fácil ter certeza de que a luz foi fortificada e escurecida,

para dar a impressão de que não era preciso ver,

se só bastava acreditar,

de modo que assim sendo,

convinha naquele momento verificar a autenticidade,

evitando não tropeçar e prevenindo seus olhos de um choque visual.

Perguntas são resquícios, palavras são versos

e a fagulha está apaziguada,

repudiando a boca incerta,

no equívoco sobre a mesa,

quando tive a peripécia de deixar uma folha esbranquiçada.

Estas são as palavras deste verso que confesso não conheço,

mas sempre o vejo incutido nas páginas de meu saltério abstrato

que esteve sempre na primeira coluna da última prateleira

do terceiro corredor da única biblioteca

da segunda casa da sexta rua

que dá de esquina com a quinta avenida

a começar da sétima praça da cidade que inventei.

Os versos ficaram espreitando tudo isso

e quiseram estar também engranzados nas páginas antigas amarelas,

mas pena que o vento os aboliu de tal indecisão

e não puderam estar presentes no holocausto

das palavras perdidas

que foram os motivos da corrupção do Abecedário Galegos.

Perguntas não vão adiantar,

as palavras não vão ser respondidas pelos versos duvidosos

e ansiosos destes que querem se propiciar das respostas alheias

e deduzir dos outros o seu sucesso fraudulento,

mas serão reivindicados ao mesmo, tal responsabilidade inútil

quando o seu olhar desviar-se para cantos indefesos de sua própria ânsia comovida por uma necessidade imbecil no seu mundo imaginário.

Olhos que nunca foram seus, mas eles muitas vezes a olharam,

você pode tê-los mas nunca os quis.

Enquanto eles estiveram inertes

não foram capazes de acordar de seus devaneios

porque o mundo estava carente da então responsabilidade frágil

que esteve o tempo todo fora de órbita

da mesma forma que a estação de rádio não foi possível ser sintonizada naquele instante mais preciso.

Depois de um certo intervalo,

depois que puderam descansar um pouco,

as pálpebras retrocederam para a superfície mais alta

e nesse momento era possível ver,

era necessário também enfatizar as palavras doces,

como ‘açúcar’ sendo sacarose.

Também convinha esperar um momento a mais

para decidir melhor sobre tais respostas ausentes

e doentes que foram preservados de lesões

pelos pensares embora embravecidos.

Respostas não serão dadas pelo seguinte motivo:

_as perguntas não foram inteligentemente feitas

e assim só nos resta dizer que fracassamos

e teremos que nos despedir das folhas embranquecidas

da mesma forma que nos despedimos da luta que já vencemos

e recebemos das mãos mais respeitadas as justas medalhas de ouro

por um título que nos foi dado há décadas à frente.

O público presente percebeu de forma ponderada e deu sua sentença

já com os indevidos preconceitos meramente indagados de forma medíocre

e perspicaz ao mesmo tempo.

E com isso minhas respostas

juntamente com as perguntas que surgiam nos versos súbitos

que meus lábios propiciavam

foram degradando um a um que ali estava presente

e seus ouvidos podiam sentir cada letra do Abecedário Lusitano

fadigar seus tímpanos com os absurdos

que poluíam as páginas de meu saltério laranjadas pelo tempo.

Fui saindo dali como um morcego ao amanhecer,

mais deixei o silêncio como resposta às perguntas incrédulas

dos falsos fiéis e deixei introduzido no acústico do ambiente

as minhas perguntas que não foram atendidas

e enfim deixei também os versos tépidos

ocupando o canto de cada olho que ali permaneciam abertos

quando me reservei a uma paragem mais calma.

Deixei asilada com os resquícios das fagulhas

a minha alma despida na lareira de minha modesta ilusão

que esteve mórbida por tanto tempo nos pensamentos errôneos

que me impediram por muitas vezes vencer.

Perguntas nunca vão adiantar

e você precisa perceber que poderes sempre comandarão

e ele me comanda agora,

que a verdade é raramente revelada

e os devaneios estão sempre guiando os meus pensares

e meus sonhos são fantasias.

Surgiu iminente como a estrela da manhã pela cordilheira,

surgiu e pairou quando eminente se mostrava erguido

no firmamento íngreme paralelamente ao oceano,

e logo que se viu emergido imergiu-se de vez no conhecimento divino

onde descobriu quem verdadeiramente era

e imediatamente procurou ver seu reflexo emitido pelo cristal miserável

na superfície de um lago negro

e pôde pelo milagre da vida

através da visão notar que tinha cabelos longos e olhos claros,

mas o que realmente importava,

ele não conseguiu ver, pois a alma é invisível.

Minha insanidade não foi capaz de tal triunfo

mas cometeu uma garfe quando pela sanidade notadamente

indagou-se sua ignorância insensata,

pois sua inteligência permanecia completamente na reminiscência do passado e não era possível o seu resgate.

Quando menos, quando mais,

quando mais ou menos,

quando em fim, quando por fim

e até que em fim que você quer que eu pare com essa prorrogação

e vá logo a tal prerrogativa que tanto se almeja conquistar,

mas você não se atormente com o que lhe quer perturbar,

não se importe com o que não lhe vem ajudar,

pois ou você vem com as mãos armadas ou com o mundo amarrado nos pés ou você terá as mãos embaraçadas nas correntes do mundo de pessoas

que lhe quer extrair e a vosso Reino nada.

Mentiras, é tudo o que ronda a política mundial,

onde a diferença social não atinge a alta sociedade

e degrada o pulmão do mundo,

e degrada o rim,

o tímpano,

o fígado,

os ossos,

a epiderme,

a derme,

o esôfago,

o pâncreas,

a laringe,

a língua... etc.

A língua ainda viva propicia as palavras necessárias,

mas pena que não são corretamente interpretadas

e acabam entrando por um ouvido e saindo expectoradas pelo nariz

de maneira anárquica.

Muitos ideários são desta maneira dissipados

e o logro fica mais nítido de modo que desistam e se tornem fracassos, pequenos grãos de areia que foram levados junto com a poeira desértica naquela sombria madrugada para nunca mais serem vistos.

Pena... que pena da pena daquele passarinho brando

que ficou abandonado, também foi levado pelo vento.

Há! se a pena pudesse voltar para o passarinho

e as asas nos fizessem voar pelas idéias outra vez

e rever tudo e com tudo porém embora...

‘se é se’

e nada mais pode ser como antes,

só poderá ser como amanhã

e é como agora está sendo!

Da mesma forma e de dessemelhante maneira

que a deformação e a organização

dos governantes do planeta foram e acabaram deixando de ser

é que será e poderá continuar,

pois é dessa maneira e através de seus ideários egoístas que esperamos um dia viver num país democrático consolidado socialista ao mesmo tempo. Chegando ao fim percebi a bagunça que rondava cada rodinha de pessoas que se reuniam para chorar seus desagrados

e enxugar suas lágrimas no manto do companheiro.

Percebi que eles estavam a todo tempo falando

de tudo o que não era bem vindo e se esqueciam de agradecer o raiar

e o pôr da estrela,

a chuva e a terra,

o plantio e a criação,

esqueciam de agradecer pelo ar e reclamavam de andar a pé,

inventaram então máquinas eliminatórias do que destrói o essencial

e os transportam de longas distâncias em segundos apenas.

‘Meus olhos meus’

que me observavam eram desafio e reluziam ao fim do dia...

fico aqui inerte e alguém se diverte,

já não sei o que fazia, nem o que fazer,

talvez tenha coragem de fugir,

mas fugir é acovardar com a realidade,

e não é preciso ter coragem,

assim eu vou infiltrar-me dentro de mim numa batalha,

e vou vencer...

olhando nos meus olhos vendo-me falecer,

como um excêntrico eu me vi sendo olhado

e não devia me olhar.

Agora esses espelhos que com sensatez vejo-me renascer,

pois com a ilusão que me fez sonhar,

descobri a verdade que me fez calar no instante forte do combate;

eu duelava a mim mesmo,

e não sei qual parte de mim me venceu a outra.

Novamente em frente ao demente espelho

que confundia meus neurônios,

pude ver a face de minha face

que me fascinava

e devorava meu olhar

com os olhos fugindo pelo canto daquele retrato ambulante e virtual,

que acompanhava meus movimentos

e me vigiava ao mesmo tempo em que eu fazia o mesmo.

Depois, meus olhos queriam se fechar,

eles pareciam mortos, eu via uma flor surgir...

eu posso vê-la, mas vê-la não me contém,

aqui dentro há sofrimento, e sendo assim já não posso mais fugir,

e me equivoco nos embaraços das palavras,

piscando as pálpebras eu penso...

e não consigo deixar de pensar,

nas lacunas que vão formando aquela imagem,

não me agüento e começo novamente a me olhar,

sei que muitos eram meus olhares,

mas o que me importava não eram esses olhos,

e tudo ficou tão assustador, entrei em conflito

e apenas o verbo do amor conjugado na minha pessoa

seria o fim do meu pudor,

e tudo acabaria ali, eu olhando para meus olhos que me olhavam... mas aí que me enganei.

Enquanto ainda o demente me seguia sem que pudesse me afastar

fui capaz de esquivar-me de seus mortíferos olhares

depois que tive a idéia de usar meus óculos escuros.

Tive receio de ser vencido,

mas venci o medo e venci também a batalha comigo mesmo.

Como um pássaro ferido não pode voar ali estava eu,

preso pelo meu próprio olhar e minhas próprias incertezas,

minhas fraquezas...

eu me sentia cruel depois,

e me sentia vencido também,

no mesmo instante que tinha a certeza que havia ganhado.

Meus olhos encontraram em pouco tempo obstáculos pela frente,

não como um olhar desafiador, fogoso, ou a escuridão,

mas um olhar estúpido que tentava me seduzir por caminhos contrários e me levar ao precipício de meus sonhos.

Eu esperava com ânsia, o momento certo, para tentar naquele instante, uma bonança, que traria o saber no futuro,

que me conduzisse amizade na vida e na felicidade,

podendo com mais calma, admirar os olhares da vida.

Seria benévolo um olhar mais nítido,

pois o partindo em duas metades,

teríamos a verdade manifestada sob olhares atentos

daqueles que nos observam e nada fazem senão nos viciar,

nos induzir observações sempre,

tais como: a que te observa.

Júnio Dâmaso
Enviado por Júnio Dâmaso em 04/07/2006
Reeditado em 24/07/2019
Código do texto: T187189
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