TEMPESTADE
Sob um céu de raivosa tempestade.
Ventos imperiais ao arbítrio, insolentes.
Das arvores as copas, dos lagos as laminas.
Em imagens distorcidas ao rompante voraz.
O urro do nada abocanhando a audição.
Na ânsia vã de um conflito urgente.
Um estalo em relâmpago rompe frágeis anelos.
E o poeta num murmúrio engasgado,
Cai no vazio das formas flutuantes.
Viaja veloz pelo túnel oblíquo,
De memórias falidas, de arquivos lacrados.
Um olhar espantado, uma sombra que assombra.
Segue sua forma disforme, enlevada,
Qual mortalha que acolhe em berço sombrio.
Pingos de granizo e estalidos medonhos,
Vem compor a terrível sinfonia.
Trovões, relâmpagos, raios.
Chuva ardente fritando ao batente.
Será da chuva ou da memória ao léu
No descontrole da razão insana
Que vem no escuro em formas etéreas,
Fantasmas, assombrações, demônios das trevas?
Formas enevoadas nublando a visão.
Já no limite da rendição em derrocada,
Sobre um corpo prostrado, um espírito algoz.
Em forma de lança, um raio de luz.
Que se precipita em passe de mágica,
Num jorro possante um brilho que ofusca.
E as duas tempestades, a do céu e a da mente,
Assim como chegaram em incontida invasão.
Escorrem astutas pelas soleiras ocultas.
Escondem-se matreiras do jugo solar.
E ficam a espiar por brechas escuras,
O dia e a hora de seu novo chegar.