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Pois não importa se o peito comporta o pavor:

A já turbada ternura tortura-me e, tonto,

Não sei ter pena da pluma que tenho, que é pena,

Mas tenho o tino restituído, retornado do tornado,

Que permite que pouse em palavras o que penso

Do turbilhão da tortuosa mente que me mente.

Aliás, o lisonjeio que livra, da lavra, o labor

Não é meu maior mistério ou mal-me-quer,

Os lábios lideram, mas é o luar quem labora na lavra.

Meu medo é a moléstia da morte: morte da mente.

A liberdade leiga é loucura que se lucra em largar...

Não minto, mas meço com medo a minha mente.

Sem o sabor do céu, que não se sabe nem se sente,

Canto num canto escuro, do claustro, o meu canto:

Sobram o suspiro e o silêncio que se faz sobre o cenho.

Recorto e reconto o encanto, conquanto não canto pois,

Sempre que meu sonho sem sorte se sonha sozinho,

Cavalgo o corcel que cursa, cálido e incônscio, a cornija.

Faz falta a fábula em que finjo fugir

Do sentir insensível: enfado afável,

Palpável papel e invisível véu,

Do futuro mal-fadado, fatídico, de ferir...

Ao fundo o farfalhar do moroso remorso

De quem pede para aprender a perder e pedir

E do pesar do pensar, que mente e remonta

Quem sente e ressoa aos sons da surdez...

Eduardo Amorim
Enviado por Eduardo Amorim em 14/10/2009
Código do texto: T1865723
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