Humanos, denasiado humanos...

Não retornarei a cantos líricos ou apaixonados!

(A menos que de veras sinta o que escrever)

Não cantarei paisagens e campos nunca vistos

Nem cuidarei de cordeiros ao som da flauta

Nem aos braços de quem nunca tive,

Nem aos beijos de lábios que nunca me tocaram!

Não cantarei as desgraças previstas

Nem alertarei as almas para o juízo final

Não lançarei cinzas de meu corpo às águas

Ou proclamarei minha santidade numa montanha...

Não duvidarei de tudo que nego aos homens

Pois vivo o que tenho, não o que afirmo

E, de tudo que me falta, sobram dúvidas

Dívidas que se acalentam no peito

E que seguem companheiras para o além-túmulo,

Onde minha consciência faz delas verdade

Não cantarei aos sábios ou aos loucos

Pois todos somos ambos e o oposto deles: humanos.

Eduardo Amorim
Enviado por Eduardo Amorim em 14/10/2009
Reeditado em 22/10/2009
Código do texto: T1865716
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