Mentiras

As mentiras mais descomunais não me afetam

Se levo em conta todas as que represento

Pois, de tanto que finjo, não sei quem ser.

Tantas são as facetas que a original se perde...

Oh, poeta verbocardíaco, te aflijas a toda hora!

Não é possível conhecer-se sem ler-se,

Seja numa poesia ou num psicanalista.

Por que és tão falso contigo, mal-aventurado?

Perdes o desposo da consciência ou do pudor

Quando teu ego torna-se contuso e/ou confuso,

Quando teu coração amoroso faz-se moroso

Quando saúdas a saudade insana e insossa

Não menos desenxabida é a vida aos teus olhos

Que incolor o céu à tua língua bestial!

Tua pluma discorda de tuas calúnias e aleivosia

Teu embuste fracassa ante tuas composições

Além do compositor, descreve-se aqui ledor

Que de hipocrisia se veste e se banha

Fazendo da lavra do artista um espelho.

E este poeta, cujo coração pulsa nestas palavras

Tem sua confusa alma descrita em meia lauda,

Pobre poeta honesto, poeta verbocardíaco...

Eduardo Amorim
Enviado por Eduardo Amorim em 13/10/2009
Código do texto: T1863466
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