O Escolhido

Se todos os santos me guardam

O que eu posso temer?

Se todos os anjos me pedem

O que eu não vou ceder?

Se toda a História me serve

O que eu não posso tentar?

Se toda nação me deve

O que eu não posso cobrar?

Onde está toda a gente

Toda a gente que usava me escutar?

Quando eu dizia toda a sorte

De coisas prontas a maravilhar?

Por onde passa a frente

Da procissão a me seguir e temer?

Quando eu guiava pelo certo

Caminho de luz sem sofrer?

Ergui todo o castelo que prometi

Está pronto antes da era findar

Com as pedras mais fortes

Feita dos ossos do vosso calcanhar

Que teve de subir alta montanha

Par me ouvir bradar

Que é todo rei profano

Só quem me segue pode se sagrar

Súdito da alta cúpula

Que pode alcançar o saber

Saber de todas as coisas

Certas para muito bem não conhecer

Não quem capitaneia, mas quem rema

É quem desconhece bem o sofrer

Joga fora todas as tuas coisas

Põe São Francisco a sorrir

Aquele pobre pastor de pobres

Que sobre eles não sabe emergir

Rema então rumo ao castelo

(que um dia será de cartas a ruir)