Açougue Humanista
Exposição de carne enrugada.
Ninguém sabe, mas toda ela já foi pisada e maltratada.
Olhando assim a grande ossada não é difícil descobrir
Donde vem tanta carne estragada
Voltando no tempo e olhando pra dentro, vejo o que perdi.
Perdi meu tempo, tentando olhar pra dentro de mim.
Usurpado, eu saio do açougue sem nada.
Nenhum mísero pedaço pra me acompanhar na estrada.
Nada posso fazer. Se não aceitar meu fardo,
Suportar o peso da própria carne, sobre minha alma.
O tempo é constante, ele nunca para.
Lembrando de tantas estradas
Tantos corpos amontoados como tralhas
Cortados ou queimados em fornalhas.
Sem saber o porquê prossigo minha jornada,
Em grande emboscada armada,
Pegos fomos novamente.
Convencemos-nos mais uma vez que
Realmente não temos mais nada.
Triste é nossa alçada, esperança não consigo ver.
Só vejo vida mutilada.
Estamos de volta ao grandioso açougue
Rancoroso está o moço
Por perder seu almoço, infelizmente.
Sua refeição custava minha dignidade.
Privaram-nos de nossa liberdade verdadeira,
Limitaram nossos pensamentos, ditaram nosso destino.
E nos grandes tonéis expositivos de vida humana
Colocaram-nos...
Preso e amordaçado eu estou sempre.
Sem direito a resposta nem defesas,
Em meus anos de estrada contados em migalhas
Concluí que a carne, só deseja uma coisa,
Suplantar a adversária.