Dimocoriá - Fala primeira
Eu, de seios jamais amamentado,
De Sinamogro, pai e mãe, negado
Por prever em fundo o que virá.
Sou, dos grãos de areia, o mais polido
Embalde a todos outros dividido
Por vão temor. Sou Dimocoriá.
De nascido, fui d’escada ao pré-sal
Dos montes de permuta vertical
De picos de neblina condensada.
Que sina! Que tamanho desperdício
D’ampola de falópio em solstício
Por zigoto então presenteada.
Sou chama de origem cristalina,
Padecer desatado da morfina,
Purina de feição de bianelar.
Sou fleimão, meio ao liso, luctífero,
Hemácia nucleada em mamífero
Marasmo que ousou se levantar.
A submissão, porém, não é estática,
Desde vinda a mim a nota fática,
Fiz intermitente o inexaurível.
Sê sinestésico, som do estronde,
Sê no tempo o que o tempo esconde,
Sê surdo, malgrado, se faça audível.
Mata a sede com fluido não salitre,
Sê tu, a ti, pois, o próprio alvitre:
Tens o mundo próprio o qual expandes.
Joga cinzas no pasto que te cerca,
Semeia a sequóia que obceca:
Tens o mundo, ainda que não andes.
Sê do amor o vetor e o hospedeiro,
Cresças tu, da metade ao inteiro
Em oposto ao vigente regime.
Regente obnóxio, ousou
Sofrer em si do qual eliminou
E crer que a crença no criar é crime.
Nefastos sonhos. Há de ser incrível
Ver em embate, lá, o eterno cível,
Cá, quem de Atlântida foi aquário.
Eis o que afaga e o afago
Eis que lá a pupa, cá, o imago.
Luta a um, ao outro, seminário.
Será massacre! Que tu não duvides!
É amor a discórdia em que resides,
Tão grande quanto a mágoa que lhe valha.
Eterna é esta sina, qual aidético,
Tão grande que, qual dúvida do cético,
Não adentra ao campo de batalha.
Tão grande é este que canoniza
O temor (valente) da poetisa
E doma o mundo ao que virá.
Que sirva a mim como irei servi-lo
Que seja da mudança o sibilo
Alto, rugido: “Dimocoriá!”