SEM RIMA 59.- ... nós ...
No início dos tempos, dos nossos,
foi o nó, nó múltiplo e excessivo:
Cedo mudou-se em nós,
nós de nós, real, virtual, existente:
Línguas em nós, lábios em nós, bocas enodadas,
Próprias e estranhas línguas, lábios, bocas:
Talvez os nós não sejamos nós,
mas apenas sede inesgotável
de sermos nós em nós projetados
à vida comprida e aquosa... água
escorregante entre as carícias
ou pelos dedos maculados e nodosos...
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NOTA.- Neste (quase) poema descodifico miseravelmente o lindo (e raivoso) da Poeta Galega intitulado «Nós», cujos versos finais são:
[...] Pouco desse nós é nosso, pois nada
na boca levamos
que os outros não levem também
por acaso
E que vida nos esperaria
que sensações de nós seriam
se fôssemos nós
sem pejo nem mácula
só nós, tu e eu
como nós quisermos ... ?
Ficaria um nós desfeito
ao faltar todo o resto
nunca seríamos nós
nós seríamos
sem jeito ... ?
Publicado no "Recanto das Letras" em 20/09/2009.- Código do texto: T1821497