Saio do sono ainda manchado
Saio do sono ainda manchado!
A mente, de sangue manchada,
Pela madrugada a pouco findada
Em sonhos onde quase me acabo
Batalhas travadas em lugar algum
Onde estou em linha de frente
Luto como se só fosse mais um
Mas me vejo ali em toda a gente
Não há dragões, carrascos, cavalos
Nenhuma arma em punho eu vejo
Vejo meus medos, atentos, calados,
de um lado; do outro os desejos
Travo as batalhas, sou herói e juíz
Sou dois exércitos, em sonho, distintos
Nem sempre termino como sempre quis
E a cada noite eu me faço instinto
Saio do sono, de sangue manchado
E a cada passo no dia eu me lembro
Destes caminhos, deste meu fado:
Em maio renasço,
me mato em novembro.