Sou...mendigo


Desregramento
no âmago da chaga psíquica
Sombras soturnas
beijam os fartos seios
da cidade monstro
 
Oh! criaturas da noite
reverencio com júbilo
Rezo a oração da libertinagem
Amo
Odeio
Sou romântico e selvagem
 
Sou santo,
anjo
e demônio
Diariamente antagônico
Rezem meus irmãos
pela minha horrível beleza
 
Sou um brado
atormentado e insano
ecoando pelos longos caminhos
deste mundo profano
Sou árvore
com ramas entrelaçadas
em vogais e consoantes fecundadas
Linguajar popular
e enigmáticas algaravias
 
Ácidos discursos ecoam
pelos arbustos do cérebro
rasgando os inquietos quilômetros
de suas autovias
 
Sou flor de lis
e um jardim de espinhos
Rosto de anjo perambulando
em errantes caminhos
 
Eterno prelúdio
Incurável doente escravo
de meu próprio distúrbio
 
Sou um líquido venenoso
e cheiroso
Aprisionado em uma garrafa
de safra bizarra
Degustado em diversas taças
simbolizando todas as raças
Sou um cometa desenfreado
em constante atrito
Varrendo os asteróides viciados
deste universo infinito
Universo enleado de prioridades
horrivelmente cultuadas
Fragmentos de uma nação
culturalmente despovoada
 
Sou provocador...

Aos fracos,
desprezíveis criaturas da amargura
a pétrea constelação de medos
é o fulgor negro do luar
refletindo nos navios cimérios
atracados no bálsamo
dos portos da morte
invólucros por seus mistérios
 
Adeus fracos,
abreviem seu longo sofrimento
ao lacerar o peito
fincando a espada da covardia
Aos demônios,
vocês darão um pouco mais de alegria

Sou provocador...

Aos inimigos,
ansiosos em me superar,
a letal cicuta
do destino
é o lume ardente
no cálice dourado contido
adoecendo seus lábios
ornando suas mentes
com a escuridão
do desprezo jorrado
 
Sou provocador...

Aos fortes,
belos guerreiros da aventura,
as infindáveis e cruentas batalhas
travadas nas chuvosas e ensolaradas
manhãs do dia-a-dia
tendo como antologia
inefáveis risos
silentes prantos
amargos desencontros
doces encantos
 
Avante fortes,
aumentem seu legado
Aos seus olhos,
o mundo é um imenso quadro
com paisagens engalanadas
e as esperanças
sempre se renovam
a cada aurora fulgurante
e delicada
 
Sou pontos e setas
Pingos e acentos
Parágrafos e vírgulas
Curvas e retas
Mediocridade e talentos
Alegrias e lamentos
 
Sou amante da noite
Arranco seu véu de donzela
e a cortejo pela janela
Tento tocar em seus seios estrelados
escalando em meus sonhos
suas montanhas cósmicas
acariciando a misteriosa face da lua
envolvendo meu trêmulo corpo
em seus sensuais olhares
de deusa nua
 
Sou um grão de areia
neste oceano de medos e delírios
Às vezes esvaindo-me,
mas sempre ressurgindo
 
Quando a música terminar
e a luz do teatro da vida apagar,
imaculados magos sorridentes
me levarão aos medievais castelos
da imortalidade
 
Basta de medos
Procuro por um seguro abrigo
Oh! grande criador de nós todos,
conduza-me ao desconhecido
Dele quero tocar as mãos
e ser seu mais leal amigo
 
Por favor,
sacie a fome e a sede
deste perturbado mendigo!


Olá Recantistas!
Essa poesia faz parte do meu livro intitulado "Lunático", o qual foi lançado em Fevereiro de 2009 e pode ser adquirido pelo contato deixado neste site.

Obrigado,

Evandro Luis Mezadri