OS SETE SELOS

Murcharam as flores todas que toquei?

Calaram-se os pássaros porque os ouvi?

Perdeu-se para sempre em tua alma

o Sol que adivinhei?

Com teu segredo nas mãos

fui eu quem condenou-te a seguir nu

qual árvore que os temporais açoitam

sem trégua nem perdão?

Mesmo antes de mim trazias

desde sempre o selo da morte sobre a fronte

e as tintas da morte a te escreverem

nos poemas sem fim

que já diziam-te assim desde menino

assim deserto eterno de ti mesmo

apesar disso a procurar...

a procurar nas sombras

algo por que viver

algo por que viver, além da morte.

Dom Quixote de algum outro de ti

Dom Quixote de mundos a virem

quantas Dulcinéias, quantas Ofélias

enlouqueceram por amor a ti.

Cheguei como as outras tantas

mas nunca soube o meu nome

o nome que nunca soube

porque jamais me chamaste.

Dom Quixote de mundos

que gênios maus derrubaram.

- Castelos de dominós.

Dom Quixote de eus múltiplos

a se digladiarem em guerras

para nenhum vencedor.

Cheguei como todas as outras

mas trazia as Boas Novas.

Eu trazia as Boas Novas.

Não soube nem saberei

que Boas Novas trazia

porque nunca mas disseste

puseste teus sete selos

sobre o Tempo que eu te trouxe.

Em teu perpétuo silêncio

só prenhe de acusações

de crimes de dolo, e culpas

forçaram-me a tantas fugas

perseguida pelas Fúrias

que assim sigo até hoje

sem descanso nem lembrança

de culpa, nem de inocências.

Assim, vendo tua Sombra

sempre a avançar, sempre em marcha

por estes campos sem fim

de uma Dor não germinada

com a minha entrada em ti

mas que em teu ódio por mim

como a se gerarem gêmeas

eu e a tua Dor em ti.

Terrível hora fatídica

eu que te trouxe a Esperança

feito Pandora às avessas.

Já te ia imensa

a árvore da tua Dor

a circular pelas veias

quando aportei. Meu crime:

a seiva de um tempo vivo

nas veias da morte tua.

Eu morro da tua morte

a morte que tu não sabes

e se soubesses jamais

nela haverias de crer.

De nada serve esta morte

assim só minha, invisível.

Não serve a mim nem a ti.

Tu, sempre igual aos teus outros.

Eu, sempre as outras de mim.

Os nossos lábios selados.

As nossas vidas seladas.

Nossos selados abismos

As seladas calmarias.

O amor e o ódio, selados.

Os selados todos tempos.

Cada um dos sete selos

e um jogo de xadrez

sem vencedor, só vencidos.

Sem vencedor, só vencidos

no jogo sempre em suspenso

pela Idade Média afora...

pela nossa Idade Média

sem nenhuma Aurora à vista.

Quem Morte

Quem Cavaleiro

jogando, ao longo das noites

por Tempos que não terminam?

10/11 de agosto de 2009.