Lamentador
cobre-me o sol
pois se a terra leve fosse
em cárcere não manteria
nem a vida terminaria
em ledo engano
ano após ano
perdido entre raízes e pleno de cicatrizes
da consciência, vizinha da loucura
a quem o céu almeja
mas a escuridão impede que veja
luz tenebrosa e inerte
é tudo que tenho/terei
em conta gotas
de vinho barato e avinagrado
espera, pobre e acordado
do começo ao fim
lento e inexorável
quer-me pouco e cedo
quente e só
livre de amarras
cego de palavras
jogadas ao vento
no vão querer que um dia chegue
seu calor desfrutar
do sol que cobre-me
cobra-me a luz
que não tenho mais.