Ao Encontro de Minha Bela (Ou do Mistério do Rio ao Carste)
Por estas longas e carstes
Estradas que beiram o rio
Caminhei com minhas astes
Sem ouvir sequer um pio
A menos vozes que falastes
Meu nome, qual rendiam arrepios.
Caminhei por longas léguas
Rumo à cidadezinha ao norte
A pé, sem cavalo ou égua
Que me deixariam mais fortes
Fui contando como em uma régua
Cada passada - rumo à morte!
Um dia pensei ter mais força
E que, fácil, buscaria mina menina
Hoje percebo que esta já moça
É, como a viola, a minha sina
E, contando na carste, poça em poça
Fui rumo reto à cidadezinha.
À beira rio, onde fugi da reta
Fui em tuas belas margens adiante
Onde eu, já descrente da meta,
Buscando forças onde não havia antes
Pensando em padre, filhos, netos,
Me brilhou algo como diamantes.
Eis que, não tão mais carste à beira
Pude avistar a igreja matriz
De um povoado coberto à poeira
- Ai, meu Deus! Tudo que eu quis!
Eis que vejo, perto, junto à porteira
A irmã da cuja outrora fez-me feliz.
Logo reconheci os cabelos
Como eram os da tua irmã, minha bela
Mas logo que até mim ela já veio
Senti temor nos olhos dela
E então, me veio o pesadelo
Que minha bela já não mais era.
Outrora, então - eu ouvia calado -
Minha bela esteve caminhando
À beira do rio qual caminhei ao lado
Fora pescar com o tempo brando
Mas eis que um temporal amaldiçoado
Caiu e às margens veio, tudo levando!
Minha bela então, nessa agonia
Se perdeu dentre as águas ferozes
E não mais se soube da minha menina
Minha bela, qual dediquei tantas frases
Porém, pasmem, reconheci d'outro dia
Beira rio, lembrei, onde dela ouvi vozes.