DO TEU FILHO PECADOR...

Óh, habitat infernal

Que tu me fizestes morar

Sagaz, imundo, anormal

Sala escrota do umbral

E agora mandas a alma

Chorosa de um pecador

Que chora em pranto sofrido

Luxúria, vaidade e amor

Mandas também animais

Sarnentos e adoentados

Do teu reino jaz banais

Cabisbaixos e amedrontados

O podre lastro da embarcação

Não tardará a romper

Tamanha a calcinação

Só vermes a perecer

Tu não tens mesmo é compaixão

Por essas almas sofridas

De vida sórdida e sem perdão

Da terra, todas banidas

E quando chegar ao meu lar

Verei à todos queimar

Culpa minha?

Não

Pois esta casa que ora habito

É a palma da tua mão

Sou também antigo prisioneiro

Satã, ruim , maltrapilho

Clamando às preces, meu brilho

Eras de cativeiro

Não interessa a razão.

Nem justo serei por teus feitos

Levareis almas ao fundo

Só deixarei teus eleitos

Paráfrase do texto "O Auto da Barca do Inferno" do poeta português Gil Vicente.

O Guardião
Enviado por O Guardião em 04/06/2006
Reeditado em 31/08/2006
Código do texto: T169156