DO TEU FILHO PECADOR...
Óh, habitat infernal
Que tu me fizestes morar
Sagaz, imundo, anormal
Sala escrota do umbral
E agora mandas a alma
Chorosa de um pecador
Que chora em pranto sofrido
Luxúria, vaidade e amor
Mandas também animais
Sarnentos e adoentados
Do teu reino jaz banais
Cabisbaixos e amedrontados
O podre lastro da embarcação
Não tardará a romper
Tamanha a calcinação
Só vermes a perecer
Tu não tens mesmo é compaixão
Por essas almas sofridas
De vida sórdida e sem perdão
Da terra, todas banidas
E quando chegar ao meu lar
Verei à todos queimar
Culpa minha?
Não
Pois esta casa que ora habito
É a palma da tua mão
Sou também antigo prisioneiro
Satã, ruim , maltrapilho
Clamando às preces, meu brilho
Eras de cativeiro
Não interessa a razão.
Nem justo serei por teus feitos
Levareis almas ao fundo
Só deixarei teus eleitos
Paráfrase do texto "O Auto da Barca do Inferno" do poeta português Gil Vicente.