de quando as palavras se rasgam e a pele não

escrevo para arriscar não ser ouvido. não ser compreendido. o que já. para tratar das banalidades dos corpos. como as horas em que somos feridas abertas. como a hora em que as maçãs se partem e já não são apenas uma. são vidas que se soltam e respiram. e urgem para ser só vida. que abriga e pede abrigo. meu corpo. e teu corpo. frutas abertas. maduras e descarnadas. a tua cor e tua nudez que me envolve e me violenta. porque me aflige ser o que sou e apenas. não bastar para tua sede. não ser água. não ser o vinho que nem queres. não ser e ainda assim, algo que dói. pedaços e fios cortantes. faz frio e teu corpo que é todo ele uma brasa me pede abrigo. não pedes talvez. mas quero salvar-te. redimir o que em mim faz um silêncio. o que me paira a desafiar-me. a desatinar-me os nós e pesadelos todos. a rasgar sonhos e penas. e me dá de beber da tua loucura então. me aninha em teus sonhos loucos. me traduz em teu desejo mais fundo. me arrisca, desenha em mim com teu fogo. a vida está cheia desse silêncio inóspito. os copos vazios. a água parada. amanhece e já é tarde quando se tem medo. se não se quer morrer é preciso não sair do leito.

Dani Santos
Enviado por Dani Santos em 07/07/2009
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