Patíbulo

Ao som do rufar dos tambores

Aos tremores da mão do verdugo

No momento do nó da forca

Feito com esmero e crueldade

O infinito instante da quase-morte

A sofreguidão da respiração cortada

Em fatias finas pelo oxigênio ausente

dos pulmões solitários e frios

Ajeitar no pescoço o nó da forca,

A lâmina fria do machado,

A guilhotina rápida e certeira

O gás invisível e letal

Ao subir ao patíbulo

Produzirei o último movimento do corpo

O pensamento fugidio se esvai pelas pernas abaixo

Descendo ao chão e sumindo dentro do ralo

E escapando do catre.

Ao som do rufar dos tambores

Não lembro mais de minha face no espelho

E nem mesmo refletida

dentro dos olhos de meus algozes

O afiado cutelo reluz feito ouro

O sol dessa manhã que ecoa

no silêncio pranteado da praça

chorando pelos orvalhos do inverno

A túnica que visto manchará minha morte

de resíduos de panos e tramas

Os lábios boquiabertos sem palavras

Dizem tudo e ao mesmo tempo

nada

É a perplexidade, a verdadeira

forca contemporânea

a sufocar poetas e loucos

Que divagam pelos escaninhos do tempo

Em busca incessante de

alguma sensibilidade humana possível

e razoável

Subir ao patíbulo

E alçar o infinito da morte

Sem acenos, bilhetes ou razões românticas.

Morrer faz a última diferença na estória

O resto é lembrança ou memória intermitente.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 19/06/2009
Reeditado em 23/02/2010
Código do texto: T1656340
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