As grades da realidade
Enclausurado
No contexto do real,
Tendo o espaço limitado
Pela loucura do normal;
Envolto a uma película cenográfica
Onde as câmeras não conseguem registrar as atuações dramáticas.
Um olhar que cura,
Um gesto solidário
Vivem por trás dos bastidores,
Não fazem parte da política
Nem do cenário.
Á dores de falta,
Em cartazes nos semblantes pálidos,
Movidas á pernas cansadas,
Mãos deformadas,
Constituem um elenco
De coadjuvantes de um final trágico.
Um roteiro surreal, shakespeariano;
Um passado atual
Que muda de maquiagem
E reasombra ano após ano;
Uma arte de humor negro
Que nunca muda ou encontra o seu desfecho.
Ser ou não se? Eis a questão!
Viver não viver,
No maio desta confusão;
E a gora o que temer?
Eu tenho medo da “lei”,
Tenho medo do que é “bom”,
Tenho medo do dia após o outro,
Do próximo passo em falso,
Do trupicão.
Quero quebras às grades da realidade
E sair dessa coletiva ilusão,
Mas a corrente tem a força da maldade
E minha virtude é o meu caixão;
Nem todo o ouro pode pagar o perdão,
Minha loucura é meu caixão
E não quero flores para enfeitá-lo.