Pedaços de Nada

Tão incômoda
por vezes se faz a vida,
tão cheia de responsabilidades .
É tamanha a abundância de decisões,
de tal forma que,
exaurido de tanto
exercitar a própria vontade,
cria um desejo insano,
uma ilusão deletéria
de livrar-se de si,
de passar a usufruir
das decisões alheias.
Parasita ou comensal,
sabe-se lá.
Um martírio a prestação,
um suicídio em suaves parcelas,
estranhas opções do cansaço.
Ou seria stress?
Quem sabe uma estafa...
Deprimido ou ansioso?
Qual haveria de ser a neurose?
Não seria
um premeditado masoquista
encontrando sofisticada satisfação
no exercício da tortura psicológica?
Talvez um castigo punitivo,
como retaliação
contra a própria passividade.
A sensação
de incapacidade para a vida.
Dia-a-dia
onde prevalece a competição.
Calado, mergulhado na mudez,
vive a engolir venenosas palavras
que produzem grande indigestão.
Acuado, vive alvejado
pelas contrariedades do cotidiano.
São pontas agudas,
dores no estômago,
dores do coração.
Uma pressão cerebral,
nos olhos e na cabeça.
São flechas atiradas sem rumo
que acabam por acertá-lo.
E fica a questionar-se,
não sabendo
se é flor despetalada
ou fera ferida
com desejo de vingança.

Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 05/06/2009
Reeditado em 13/06/2009
Código do texto: T1633320
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