SERPENTES
Haverei de tingir você em mim.
E a tinta, que azul para meus olhos...
penetrar-me-á devagar pelos poros,
misturar-se-á ao meu sangue sedento
e florirá jardins de violetas roxas,
cujos caules crescerão acelerados
e se erguerão a dilacerar-me o cérebro.
Então, as violetas se multiplicarão
famintas, incontidas e absolutas
e devorarão as células vulneráreis.
Respirarei a silhueta ilusória de você
e viajarei em sua balsa de eucaliptos,
num rio denso de cogumelos pálidos.
E suplicarão minhas veias ressecadas
por suas águas delirantes de morfina.
E farei morada em seu mundo de loucuras...
E as violetas roxas floridas nos jardins,
regadas com sangue convertido em lava,
aflorar-se-ão em minha pele sem viço...
E meu coração, embriagado de você,
adormecerá. Adormecerá eternamente...
Adormecerá eternamente
antes mesmo de descobrir
que as violetas, na verdade,
eram serpentes!