SERPENTES

Haverei de tingir você em mim.

E a tinta, que azul para meus olhos...

penetrar-me-á devagar pelos poros,

misturar-se-á ao meu sangue sedento

e florirá jardins de violetas roxas,

cujos caules crescerão acelerados

e se erguerão a dilacerar-me o cérebro.

Então, as violetas se multiplicarão

famintas, incontidas e absolutas

e devorarão as células vulneráreis.

Respirarei a silhueta ilusória de você

e viajarei em sua balsa de eucaliptos,

num rio denso de cogumelos pálidos.

E suplicarão minhas veias ressecadas

por suas águas delirantes de morfina.

E farei morada em seu mundo de loucuras...

E as violetas roxas floridas nos jardins,

regadas com sangue convertido em lava,

aflorar-se-ão em minha pele sem viço...

E meu coração, embriagado de você,

adormecerá. Adormecerá eternamente...

Adormecerá eternamente

antes mesmo de descobrir

que as violetas, na verdade,

eram serpentes!

Marco Aurelio Vieira
Enviado por Marco Aurelio Vieira em 28/05/2009
Código do texto: T1618997
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