De novo o olho...

De novo estou

Preso ao espelho

Do banheiro

Olhando um olho

Olhando-me

De dentro

Do espelho

Aproximo-me mais

E olho bem dentro

Do olho que me olha

Dentro dele vejo

Um cara olhando

Pra dentro de um olho

Que esta dentro

Do espelho do banheiro

Há um “feedback”

Uma reverberação

De olhos que se olham

Uns dentro dos outros

Formando uma espiral

Tal qual a cauda

Do escorpião enrolando-se

Como diria Fernando Pessoa

Imagine a cobra enrolada

Na árvore, tira-se a árvore.

Só fica a cobra enrolada

No nada esta é a espiral

Esta é a cauda do escorpião

Esta é a formação do “feedback”

Do olho que se olha

Dentro do espelho

Do banheiro que tem

Uma lente de aumento

Mas o olho

Que olho

Não é meu olho

Que eu vejo

É o meu olho

Que eu penso ver

Pois esta invertida

Já que esta

Ao contrário

Do que vejo

Realmente

O estou vendo

Refletido

E ele de dentro

Do espelho

Vê de forma

Direta o olho

Que o vê

E que ele vê

Também

Na verdade

O que vejo

É só meu olho

Mas ao me colocar

Na posição

Do olho refletido

Vi inversamente

O que pensei ver

De frente

Apenas

Mais um

Equívoco

Um raciocínio

Bem lógico

Que na prática

É o contrário

Pois a visão

De dentro

Do espelho

É inversa

A visão direta

Que se vê

De fora

Do espelho

Ainda mais

Com todo esse

“Feedback”

ABittar

Poetadosgrilos