Serpente!
A serpente serpenteia
Pelas eiras e beiras
Rasteja toda festeira
Da cabeça ao rabo
Contorce-se inteira
Nas tocas das malocas
Entra nas grutas escuras
Insinuante e astuta escuta
Prepara e arma o bote
Ai de quem se sacode
Engole o quanto pode
Vislumbra e escorrega
Sua língua a governa
Solta a gosma venenosa
Mais se contorce nas esfregas
Entrega-se ao instinto de fera
Indo fundo aos labirintos
De sua fome mais faminta
Que não pode ser extinta
Para vir caçar a sua presa
Sua sanha não engana
É medonha e esgana
Penetrante se assanha
Inoculante a soltar veneno
Destila, perfila e desfila
Sua febre peçonhenta
Tão bela e tão nojenta
Se picar ninguém agüenta
Ah! Ser... pente... Ser... penteia
Vai atrás da tua ceia
Fique longe da minha teia
E por favor, não me pentelha
Nem me morda a orelha
Que eu não sou da sua espécie
Nem venha e veja se me esquece
Eu te respeito e faço minhas preces
A ti com as vestes lá do éden
Como deusa liberta que não teme
Morder da maçã por Deus proibida
Para descobrir toda a sua essência
E desvendar os mistérios da ciência
A desafiar como musa do conhecimento
Soberana ninfa, diva e ninfeta do saber
Castigada e destinada a rastejar seu ser.
Hildebrando Menezes