Fugindo do Abismo

A escada. A subida. A escalada.
Pés e mãos sangrando.
Coração em disparada.
Essencial atingir o cume.
Do alto gritar aos cantos do mundo.
O tempo passando.
Caminho cada vez mais árduo.
Tempo indo.
Corpo cada vez mais velho.
Dedicada obstinação.
Desejo ferrenho de chegar.
Vencer a todas as barreiras.
Vontade vencendo o cansaço.
Temer as desilusões.
Temer a falta de esperança.
Um andar de zumbi.
Cego, vendo apenas o objetivo.
Desprezando toda adversidade.
Querendo chegar a todo custo.
Enfrentando o destino.
Quer gritar...
Mas perdeu a voz.
Odeia-se por não conseguir.
Seria temor ou medo da chegada?
Haveria chegada ou seria mera ilusão?
Um único iludido ou haveria outros?
Fosse só, seria imensa a solidão.
E na solidão, o medo do engano.
A necessidade da aceitação dos outros.
Uma vontade solitária, um sonho inatingível.
O desespero ante a possibilidade de falhar.
Mergulhar em autopiedade.
Ter a tristeza dos perdidos.
Atingir a melancolia dos indignados.
Quer amar-se, mas rejeita-se.
O olhar divagava sem rumo.
Logo à frente, um profundo abismo.
Um buraco para abrigar os sonhos.
Um impulso suicida.
A perversa vontade de atirar-se.
Impossível viver sem sonhos.
Falta-lhe coragem para tal ato.
A senilidade cria estranhas raízes.
A proximidade da morte cria apego à vida.
Sem forças para resistir,
mas querendo sobreviver.
Buscando um armistício com o destino.
Em meio à sua guerra particular,
um desesperado pedido de paz.
Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 01/05/2009
Reeditado em 02/05/2009
Código do texto: T1570573
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