Mar-alto
Quase mais nada sou
Sobrou pouco de mim
De tanta luta restou
Um grande vazio sem fim
Marcas de algemas e correntes
Que quebraram com o tempo
Enferrujadas como meu corpo
Roto, sem graça, sem viço
Meus sonhos se foram em gotas
Meu querer não é mais um querer
Minha história quero esquecer
Na poeira que aqui se instalou
Nunca vi um vazio tão cheio
De tantos gritos e sussurros
Agonias e tantos apelos
Nossos caminhos são paralelas
Nossos olhares se cruzam
Mas não podemos sonhar
Sua estrada está traçada
E a minha sem traçado vai continuar
Estou só, amigo, amante
Fruto de meus sonhos de outrora
Da tua boca nunca tive um beijo
Dos teus braços nem sequer um abraço
Dos teus olhos vivos e atentos
Guardo lembrança na imaginação
Para que quando em mim acabe a vida
Eu leve na memória sem corpo
A ilusão de ter seu olhar em mim
Joguei fora meus dias e noites
Presa a uma história do passado
Amarrada num porto sem nome
Agora ferida e sem destino
Vou me entregando gota a gota
Num oceano de amor não vivido
Sem direito a recomeço
Vou seguindo mar alto a fora.