Mar-alto

Quase mais nada sou

Sobrou pouco de mim

De tanta luta restou

Um grande vazio sem fim

Marcas de algemas e correntes

Que quebraram com o tempo

Enferrujadas como meu corpo

Roto, sem graça, sem viço

Meus sonhos se foram em gotas

Meu querer não é mais um querer

Minha história quero esquecer

Na poeira que aqui se instalou

Nunca vi um vazio tão cheio

De tantos gritos e sussurros

Agonias e tantos apelos

Nossos caminhos são paralelas

Nossos olhares se cruzam

Mas não podemos sonhar

Sua estrada está traçada

E a minha sem traçado vai continuar

Estou só, amigo, amante

Fruto de meus sonhos de outrora

Da tua boca nunca tive um beijo

Dos teus braços nem sequer um abraço

Dos teus olhos vivos e atentos

Guardo lembrança na imaginação

Para que quando em mim acabe a vida

Eu leve na memória sem corpo

A ilusão de ter seu olhar em mim

Joguei fora meus dias e noites

Presa a uma história do passado

Amarrada num porto sem nome

Agora ferida e sem destino

Vou me entregando gota a gota

Num oceano de amor não vivido

Sem direito a recomeço

Vou seguindo mar alto a fora.

Ana Maria de Moraes Carvalho
Enviado por Ana Maria de Moraes Carvalho em 24/04/2009
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