NINGUÉM ME ACOMPANHA EM MEU DELÍRIO

Agora sou o último dos humanos.

E ninguém me acompanha em meu Delírio.

Cheguei ao limiar dos limiares e vejo a Morte

Agora sim sou eu.

Estou só. Cosmicamente só.

E ninguém me acompanha em meu Delírio.

Porque não há nada mais a ser feito.

Em breve todos saberão qual a minha última esperança e o meu último desejo...

Uma noite larga, fria, escura e imensa

envolve-me por todos os sonhos de minha alma.

Que asas possuem meus sonhos, como voam longe agora.

Longe... Meu Deus! Tão longe...

Ninguém ao meu lado. Não há ninguém ao meu redor.

Ninguém me acompanha em meu Delírio.

Quem toca o violino é uma louca.

Quem canta o poema é uma bruxa.

Quem me olha no olho é uma diaba.

Quem me olha é uma diaba...

O sol se pôs e chorando goteja no horizonte.

Havia tanta tristeza no sol,

havia tanta tragédia, meu Deus!

Havia tanta desgraça!

Havia tanta Saudade, tanta...

E eu sei que é tarde. É tarde. É muito tarde

Já não posso te amar. Acenou-me com a mão,

parecia uma caveira, mas não era caveira.

Tudo o que é lúgubre então voou nos céus,

e de seu rosto medonho valsaram os maus-presságios...

Então compreendi: não havia ninguém ao meu lado.

Foi quando “um urubu pousou na minha sorte”, foi o que disse Augusto dos Anjos.

Dos Anjos... Isso me recorda de algo...

Ouço o lamento dos sapos, grunhidos de funda morbidez.

Meu Deus, eu preciso dormir, dormir e descansar-me,

Vou deitar sobre minha paixão até asfixiá-la.

Há alguma espécie agourentamente rápida

de marcha mortuária cavalgando em minha direção.

E eu devo recebê-la. Pois não há ninguém ao meu lado

e ninguém me acompanha em meu Delírio.

Quem toca o violino é uma louca.

Quem canta o poema é uma bruxa.

Quem me olha no olho é uma diaba.

Quem me olha é uma diaba...

Alguns seres solitários e estranhos tocam trombetas.

A marcha em loucura recresce seu som e brada mais perto, mais perto...

Não sei que som é este, mas é uma sentença terrível

E ninguém me acompanha em meu Delírio.

Ninguém me acompanha em meu Delírio.

**Inspirado no conto "Ninguém me acompanha em meu delírio" de Alessandro Reiffer