O DEMÔNIO DA MINHA INSPIRAÇÃO
Entreguei minha alma a tal Mefisto
fiz reza às avessas, cantei Exu e seus demônios
maldisse as rimas pobres e as letras aguadas
exorcisei tragédias de versos vazios !
Vontade eu tive, (mas enfim capitulei)
de zerar tudo, nascer em terras distantes...
De vez em quando me bate essa incerteza
essa agonia diante das palavras desafiadoras
e a louca vontade de chutar o balde.
Quanta gente decerto já a teve, vezes sem conta
e refugiou-se em um soneto pé quebrado!
Eu tive raiva, eu tive medo, eu me danei todinha...
e me espremi em versos contidos?
Danem-se as regras, a poesia burocrática!
Pássaros cantando, sol brilhante, águas calmas...
Cacete!
Muito cacete ...
Hoje não quero doces licores, preciso de um trago bem
forte!
A alma se retorce, cobra ferida de paulada
o corpo pinga lento deste conta-gotas existencial
boca entreaberta, olhos esbugalhados ...
Enquanto a tarde escorre pelas ladeiras
e forma poças de calda dourada e ondulante
pelos recantos...
O meu parto nas letras é com dor,
torturante caminho feito às cegas...
Dou-me à luz vindo da escuridão
e em grito despenco no abismo...
o meu avesso rasgado
à força das palavras duras
sentimentos contraditórios
vontades nunca saciadas
voragem , olho fixo na distância.
Mas me guarda a mão suave
do encantamento de estar viva
que provê energias
que costura as entranhas
e embala a cria recém-nascida
pedaço de mim, tripas ao vento
coração batendo descompassado
e alma escancarada e provedora,
abraçante e generosa neste
envólucro de rudezas aparentes
vadia das noites intermináveis
borralheira das cinzas de tantas mortes
mas multicolorida estrela !
Parto com dor de inspiração ...
... e você Poeta, tem parte com este demônio!