VIVER APÓS A MORTE
Quero
assumir nos meus actos
a paisagem da memória
para viver após a morte.
Quero
que quem me ama
em cada pôr-do-sol,
possa recordar o meu olhar
sem saudade triste nem lamento.
Quero
que ouçam no vento
a voz eterna da minha gratidão,
porque estarei presente na duração
dos dias e noites de quem sabe que amei.
Depois
que eu parta
para além do segredo
vão de todos os segredos,
os meus feitos serão jardins
de luz no areal do meu adeus.
Ninguém
sabe o alfabeto
da distância que nos separa
do fim do tempo que nos espera,
uma espera que se esvai na aurora
dos dias que correm para a fonte do pó.
Ninguém
advinha as direcções
no labirinto do destino,
onde somos alvo em movimento
por entre tiros no escuro dos passos por dar.