Maniqueísmo unilateral
Rouba-me a mente um devaneio perverso
Infiltra-se contaminando os versos
Tem algo de cruel e de opaco
Insulta-me a culpa e a sua falta
Enquanto o peito alaga e submerso
O coração não perdoa a alma incauta
O som que sai da boca é incontrolável
É um monstro de própria vida, indomável
Que fere em chagas os alheios corpos
Mas é um prazer inflado, é muito gosto
Um desejo infinito e inoxidável
Filtrado nos fantasmas do seu rosto
E as veias incham então gordos regaços
Que inundam de vermelho os olhos baços
E os dentes se expõem organizados
Perdôo a mim mesmo pelos pecados
Mas o perdão engasga em meu cachaço
E o choro não me vem de olhos fechados