Reconstrução II

Antes fossem como carros as idéias

Correndo por vias únicas e expressas

Com pouco ou nenhum risco de acidente

A uma velocidade comportava.

Mas elas insistem em ser fluidas

E em se misturar ou se perder tão facilmente

Elas insistem em ser às vezes só idéias

Às vezes grandes atos, e mais vezes projetos.

Elas insistem em ir e voltar livres.

E adoram desfazer e refazer caminhos

As idéias vão ao cérebro e voltam a boca

E vão aos olhos e acabam nos dedos

Acabam nos dedos as idéias

Os poemas começam nos dedos.

Os poemas são idéias que foram projetos

E hoje são poemas.

Não são mais que idéias organizadas em versos

E versos organizados em estrofes

E estrofes uma embaixo da outra

Apenas estrofes, versos, palavras, idéias.

Um poema pode falar de uma idéia

Ou de duas idéias

Ou de dez idéias

Ou de mil idéias

Um poema pode ter versos sós

Ou versos

Que vem em dupla

Ou ainda

Versos

Em trio

Um poema pode se encaixar

Ou não dizer nada com nada

E pode ter métrica

Ou não

Há ainda a possibilidade de rimar

E a probabilidade de não rimar

O importante são as idéias

Fluidas

E as idéias vem e vão

Então a gente as anota

Quando elas chegam na ponta dos dedos

Muitas se perdem pelo caminho.

É a vida.

Idéias têm vida curta.

E idéias são pedaços seus,

Meus,

Nossos.

Partilhar idéias é importante.

Ou não faz sentido nenhum.

Você pode estar apenas doando um pedaço

Seu, meu, nosso

Idéias são idéias.

Isso é uma idéia.

Ou talvez sejam mil idéias

Ninguém quer ler idéias, também.

Joao L Terrezo
Enviado por Joao L Terrezo em 27/01/2009
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