Reconstrução II
Antes fossem como carros as idéias
Correndo por vias únicas e expressas
Com pouco ou nenhum risco de acidente
A uma velocidade comportava.
Mas elas insistem em ser fluidas
E em se misturar ou se perder tão facilmente
Elas insistem em ser às vezes só idéias
Às vezes grandes atos, e mais vezes projetos.
Elas insistem em ir e voltar livres.
E adoram desfazer e refazer caminhos
As idéias vão ao cérebro e voltam a boca
E vão aos olhos e acabam nos dedos
Acabam nos dedos as idéias
Os poemas começam nos dedos.
Os poemas são idéias que foram projetos
E hoje são poemas.
Não são mais que idéias organizadas em versos
E versos organizados em estrofes
E estrofes uma embaixo da outra
Apenas estrofes, versos, palavras, idéias.
Um poema pode falar de uma idéia
Ou de duas idéias
Ou de dez idéias
Ou de mil idéias
Um poema pode ter versos sós
Ou versos
Que vem em dupla
Ou ainda
Versos
Em trio
Um poema pode se encaixar
Ou não dizer nada com nada
E pode ter métrica
Ou não
Há ainda a possibilidade de rimar
E a probabilidade de não rimar
O importante são as idéias
Fluidas
E as idéias vem e vão
Então a gente as anota
Quando elas chegam na ponta dos dedos
Muitas se perdem pelo caminho.
É a vida.
Idéias têm vida curta.
E idéias são pedaços seus,
Meus,
Nossos.
Partilhar idéias é importante.
Ou não faz sentido nenhum.
Você pode estar apenas doando um pedaço
Seu, meu, nosso
Idéias são idéias.
Isso é uma idéia.
Ou talvez sejam mil idéias
Ninguém quer ler idéias, também.