Reconstrução

Uma negra e assustadora fera indômita se esconde

Em algum lugar do meu crânio

Como a mastigar os miolos

Moles pedaços de mim

E um balbuciar tímido e bêbado

Que não sai da minha boca mas da ponta

Dos meus dedos.

Rima inútil.

A falta, a ausência de mim

De sim

Falta o não ao não.

Sou o observador que narra o que acontece comigo

Como consigo.

Não, comigo, contigo.

É o ego.

Cego. E a cegueira não é branca nem negra.

É gris.

Há a vontade mas faltam as palavras

Falta o motivo

É tudo só um capricho, vaidade

Cérebro nulo, no escuro, na luz

A meia-luz, a contraluz.

Observo-me novamente.

Sendo assassinado por dezenas de vezes.

Tiros e facas

Marcas e mais marcas

Destruição é o que se opõe a isso.

É tão irônico escrever e se destruir.

Então eu volto o tempo como se eu pudesse mesmo

Voltar o tempo, então destruir-se

E escrever irônico, então é isso,

Opor-se ao que é destruição.

Voltando a gente sempre consegue algo.

Olhar para trás e andar para frente é sempre uma combinação perigosa

Para os fracos.

O passado não é feito para ser apagado.

Marcas e mais marcas, tiros e facas.

Vendo meus múltiplos homicídios de mim mesmo, suicídios então,

Vendo-os, todos, ao contrário.

Não me destruo mais.

Estou me reconstruindo.

Reconstruindo-me.

Reconstruindo o que morreu.

E como olhar para trás faz você se reconstruir até voltar a ser o que era

Nada.

Apenas um saco de nada.

Está cheio

De si.

Estou cheio

De mim.

Ninguém se interessa por pensamentos.

Joao L Terrezo
Enviado por Joao L Terrezo em 27/01/2009
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